Duas décadas depois de serem extintas do seu ambiente natural, 52 Ararinhas-azuis desembarcaram no aeroporto Senador Nilo Coelho em Petrolina, no Sertão de Pernambuco. As aves que estavam na Alemanha foram levadas para um centro de recuperação em Curaçá, na Bahia.
Qual é o canto da liberdade? Na semana do retorno das ararinhas-azuis para “casa”, fruto da transferência de 52 indivíduos trazidos da Alemanha para o nordeste brasileiro, os sertanejos mostram como é possível conscientizar com arte.
Músicas, criadas desde a extinção da ave na natureza, se tornaram hinos das comunidades de Curaçá, cidade do sertão da Bahia, uma das áreas onde a ararinha vivia. Como forma de clamar pelo retorno das aves, as canções foram passadas de geração em geração, e transformaram jovens em ambientalistas e praticantes da conservação.
A iniciativa tem as mãos de Fernando Ferreira, funcionário público da cidade de Curaçá, orientador de produção cultural e organizador de oficinas voluntárias para a comunidade. Ele, que não é nativo do município, veio de Barbalha (CE), mas fez da cidade baiana sua morada, há 25 anos.
Enquanto Fernando ali se fixava ao final dos anos 90, observava que as raras ararinhas-azuis estavam cada vez mais “sumidas”. Elas, que eram as donas do ambiente. “Eu descobri e fui me interessando pela luta e pela ação dos pesquisadores com relação à ararinha-azul e fui fazendo muitos trabalhos voluntários”, comenta.
Como Curaçá é uma cidade muito rica culturalmente, em 2000 (o mesmo ano em que a espécie foi dada como extinta na natureza) foi implantado um projeto que Fernando ajudou a idealizar. Com teatro, música, dança e educação ambiental, a proposta era cativar os jovens da comunidade para as artes e para o conhecimento da natureza.
“Nesse ano eu decidi criar a música ‘Brincadeira de Araras’. Ela tornou-se um hino que alimentava a esperança do retorno das ararinhas”, relembra. Em um vídeo recente e emocionante, crianças de Curaçá ensaiam a canção para apresentá-la no momento da chegada das ararinhas, estrofes que nunca pareceram fazer tanto sentido.
O orientador cultural explica que as ararinhas-azuis têm uma relação muito forte com as maracanãs-verdadeiras (espécie quase ameaçada). Nos anos 90, quando expedições encontraram uma única ararinha-azul na natureza, ela se relacionava com essas parentes, o que até alimentava as esperanças de reprodução de um híbrido. O fato não ocorreu, mas Fernando idealizou na música o momento em que as maracanãs clamavam pelo retorno das “amigas de voo”.
As produções culturais não pararam por aí. “Em 2016, ouvimos histórias de pessoas que haviam visto um vulto da ararinha na Caatinga. Alguns não acreditavam, mas eu acredito que a natureza dava o seu recado. Então, conversando com amigos, decidimos escrever a canção ‘Esperança Azul’”, conta o artista.
Com o município de Curaçá em festa pelo retorno das ararinhas, Fernando comemora também o atendimento que presta a cerca de 40 crianças, através das oficinas culturais. “Eu vejo a arte como um veículo de transformação e o meu trabalho com ela uma missão. Eu acredito em Deus e a principal obra Dele é a natureza, por consequência, eu acredito nela e sou um defensor”.
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