Todo mundo sabe que em Roma os imperadores usavam do coliseu para promover espetáculos com o único intuito de entreter o povo e assim desviar o foco das coisas públicas que realmente importam. Pois bem, por mais incrível que possa parecer, 2.000 anos depois em Juazeiro da Bahia ainda se usa a mesma receita.
O governo municipal que não tem competência para promover a arte e a cultura da cidade, se utiliza da prática romana do panem et circenses pra tapear o povo, promovendo uma festa descaracterizada, elitista e cara, que não tem mais nenhuma relação com a tradicional festa de momo juazeirense.
O que se observa ao longo dos últimos anos é justamente o contrário da proposta real do que é o carnaval, uma festa desregrada, de liberdade e de alegria, de fato, qualquer pessoa com o mínimo de discernimento já notou que a festa não é mais feita para o povo, é feita na verdade para encher os bolsos de empresários que se tornaram os “donos da festa” e que se acham no direito de ditar, onde, quando e qual cerveja o folião vai tomar.
As pessoas que ainda se prestam a comparecer a folia, são tratados tal e qual uma manada de bovinos, que são literalmente tangidos para dentro dos currais promovidos pela prefeitura municipal, não se vê mais a promoção da alegria, não se vê mais a sociedade 28 de setembro aberta, nem o Carnaval da Apolo, não se vê mais ninguém fantasiado, coroas coloridas onde estão? Procurem! Eu vos garanto leitores que não encontrarão uma marchinha de carnaval.
A única coisa que se vê mesmo é a ânsia desesperada de gente que já tem dinheiro atrás de mais dinheiro, em detrimento do mais importante que é o povo de Juazeiro. Um povo que diga-se de passagem se tornou refém de uma ditadura do mau gosto, a cidade que deu ao mundo o insofismável João Gilberto que pariu o carismático Luiz Galvão traz para as ruas da cidade o que há de mais intolerável, que é a promoção da violência, da baixaria, de músicas que sequer poderiam ser consideradas músicas por uma sociedade sensata, pacata e ordeira como a nossa.
É lamentável que em nossa cidade, as ditas autoridades que deveriam promover o bem estar e a satisfação do povo, se ocupem de inaugurar bares e empreendimentos particulares, pasmem, como se fossem obras públicas, enquanto isso o Centro de Cultura João Gilberto encontra-se fechado, abandonado e triste, mas que diferença isso faz para estas pessoas que desmandam na cidade? Eles não frequentam o teatro, eles não leem poesia, alguns são inclusive, incapazes de articular uma frase que já não tenha sido elaborada por alguém mais inescrupuloso, em verdade, a única linguagem que esta gente compreende é a linguagem do dinheiro.
Como já é sabido por toda comunidade juazeirense, os atuais mandatários da cidade não tem humildade nenhuma, não reconhecem erros e quando criticados acusam quem critica de oposição. Quando acuados, acusam os juazeirenses que pensam, de torcer contra a cidade isso quando não se lançam nas redes sociais numa cruzada ad hominem para atacar de forma medíocre um ou outro que ouse dar palpite na lambuja que promovem.
Eu sou um juazeirense que torço muito pela minha cidade e que, sempre que posso através da minha arte, elevo o nome da minha terra, afinal minha família vive aqui a quase 200 anos, acompanho com bastante interesse as coisas que acontecem e não tenho a menor pretensão de me envolver na anti-politica feia, feita por homens pequenos que aqui ocorre, eu só queria mesmo, através desse texto pedir um pouco mais de respeito conosco, cidadãos juazeirenses, nós pagamos impostos para que a cidade se desenvolva e não para promover o mal.
No ano passado alguém ganhou muito dinheiro com o carnaval, mas durante a passagem do “Príncipe do Gueto” um jovem teve sua vida ceifada, como podem as pessoas que promovem esta festa ignorar a lei anti-baixaria e trazer novamente esse “artista” pra cá? Enfim, deixo para a reflexão geral um trecho altamente poético deste cidadão de uma genialidade sem igual, que tem todo o direito de fazer sua arte, embora eu prefira que o faça bem longe.
O Kannário é barril!
O Kannário é barril!
O Kannário é barril!
O Kannário é barril!
O Kannário é barril!
Por quê?
A porra pega
A porra pega
A porra pega
A porra pega
A porra pega
A porra pega
A porra pega
A porra pega
João Gilberto Guimarães é juazeirense, professor, poeta, compositor, editor, Fundador da Editora CLAE e autor de alguns livros de poesia.
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