De quarta-feira (11) até sábado (14), em sintonia com a Conferência do Clima da ONU em curso na Espanha, a Fundação Joaquim Nabuco e o Programa de Desenvolvimento de Meio Ambiente da UFPE debatem no Recife sobre as mudanças climáticas na perspectiva da conversação da biodiversidade e inclusão social, durante o 9º Seminário Brasileiro e o 4º Encontro Latino Americano sobre Águas Protegidas. A mesa de abertura trará a experiência pioneira no Brasil em desenvolvimento no Sertão de PE, onde dá autonomia a agricultores familiares através da geração de renda e cidadania pela produção e distribuição de energia elétrica e de alimentos. A atividade será realizada nesta quarta, das 13h30 às 16h30, no auditório do Centro de Ciências Socias Aplicadas, no campus da UFPE em Recife.
"Diferente do que muitos pensam, a mudança do clima já acontece e seus impactos no planeta também, a exemplo do aumento da frequência e da incidência de eventos extremos, como secas bem mais severas, afetando sobretudo as populações pobres e os ecossistemas. Em Pernambuco, como em todo o Nordeste, com grandes faixas territoriais e populacionais dentro do bioma Caatinga, áreas semiáridas onde já é alta a degradação ambiental e é baixo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), esse é o desafio maior para o Poder Público e a sociedade civil organizada. Eles carecem de tecnologias e políticas socioeconômicas de adaptação", fala Francis Lacerda, climatologista do Instituto Agronômico do Estado (IPA) e gestora da rede nacional de pesquisadores (Ecolume) que atua na área.
A Ecolume, financiada pelo CNPq do Ministério de Ciência e Tecnologia, desenvolveu o 1º Sistema Agrovoltaico em uso experimental no Brasil. Fica em Ibimirim, que já foi considerada a cidade com menor IDH em PE. A inovação possibilita ao pequeno agricultor produzir o ano todo alimentos (animal e vegetal) com pouca água, e, ao mesmo tempo, gerar e distribuir energia elétrica a partir da abundante incidência solar no Sertão. Em uma pequena área de apenas 20 m², o faturamento anual chega a R$ 10,3 mil – valor três vezes maior que a produção convencional de milho ou feijão.
"De baixo custo e de fácil operação, o investimento na tecnologia se paga em dois anos de funcionamento e produção", conta Francis. A inovação é composta por três subsistemas integrados: o solar (painéis fotovoltaicos), alimentar (aquaponia) e o hídrico (sistema de reuso de águas cinzas). O sistema agrovoltaíco está instalado e ativo na escola agroecológica Serta.
Além de ser uma promissora alternativa produtiva diante da emergência climática, vital para o novo modelo de desenvolvimento socioeconômico, o sistema agrovoltaico ainda foca na questão da conservação ambiental por meio do estímulo à bioeconomia das riquezas naturais da Caatinga. "Ele viabiliza a promoção de serviços ambientais através da produção e comercialização das mudas de plantas nativas, como o umbu, e dos seus produtos derivados. O replantio dessas espécies na região contribui para manter o solo e o clima úmidos e podem ser utilizadas para a fabricação e a venda de produtos certificados do bioma" diz. Na Bahia, por exemplo, já se produz até cerveja do umbu, sem falar em diversos outros produtos.
Francis afirma que a tecnologia não se trata só de alternativa econômica, mas também de conservação da biodiversidade e de inclusão social. "Não é uma questão somente de geração de renda a pequenas comunidades, mas estimulá-las a uma reflexão e mudança de percepção das riquezas naturais e econômicas através da preservação do bioma. É preciso notar que se ganha mais com a floresta em pé do que derrubada ou queimada. Assim como a mudança do clima em curso que provoca um novo modelo econômico, já sendo praticado em várias partes da Terra, nós temos aqui, no Sertão, riquezas naturais abundantes para isso. Basta a governança para integrar o uso inteligente da energia, agricultura e água", diz Francis.
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