ARTIGO – ATÉ TU, BRUTUS?

24 de Nov / 2019 às 23h00 | Espaço do Leitor

Quando as tragédias naturais acontecem ou coisas absurdas ocorrem ao nosso redor, é muito comum se ouvir frases do tipo: “é o fim do mundo!”, o que significa para essas pessoas um desabafo e consolo, ou mesmo uma forma de acomodação por não ter jeito a dar. Os dias atuais, então, estão pródigos em registros de algumas calamidades como incêndios na Amazônia, Indonésia, Sibéria, costa leste da Austrália e norte da Califórnia, além das recentes inundações na Índia e em Veneza, espalhando prejuízos ambientais e mortes. As secas intensas e as tempestades cíclicas, embora sendo fenômenos previsíveis pelo controle e acompanhamento da avançada tecnologia hoje existente, o seu efeito destruidor sempre deixa marcas profundas, ainda que parcialmente amenizadas pelos recursos alternativos de defesa.

Como complemento às fatalidades de origem natural que afetam diretamente a vida das pessoas e provocam graves consequências sobre a flora e a fauna que enriquecem a nossa natureza, em geral, não poderia faltar a interferência criminosa do próprio homem na geração de catástrofes as mais diversas. Para as próprias queimadas recentes no Brasil, não faltaram acusações de participação direta dos proprietários rurais interessados em desmatar.

São muitos os registros dessa ação deletéria ao longo da história, mas, nunca se viu tamanho absurdo como a quantidade de óleo jogado ao mar nas proximidades da costa do Nordeste Brasileiro, de origem ainda não descoberta além de inúmeras suposições aventadas. Ainda está por serem avaliadas as graves consequências para a flora e fauna marinhas, para não dizer dos incalculáveis prejuízos à economia de toda a população costeira, não somente dependente das riquezas do mar como dos resultados do turismo em toda a extensão praiana.

É tão impressionante o volume de óleo que continua chegando às praias, que surpreende o fato da sua origem ainda não encontrar explicação das investigações, apesar de toda a tecnologia terrestre e espacial disponível. Isso provoca entre os leigos definições as mais variáveis possíveis. Daí é que ouvi de uma leitora, sem qualquer raiz de natureza religiosa, a conclusiva justificativa pessoal de que “isso mais parece um castigo ou praga brotando do fundo do mar”! Sério? De repente me veio à lembrança as 10 pragas do Egito, usadas por Deus para forçar o Faraó a libertar o povo israelita escravizado (I Samuel 4:8)!

Mas, caros leitores, todos esses fatos históricos - até revivendo os tempos bíblicos, há milhares de anos -, servem para fazer um comparativo e reflexões sobre os dias atuais. Isso porque, não bastassem os incidentes geográficos e naturais, convivemos com as tragédias provocadas pelo comportamento indigno do próprio homem, principalmente daquelas autoridades que ocupam postos de alto nível e envergonham àqueles que deveriam respeitá-los e admirá-los. Citaria inúmeros casos, mas a recente operação da Polícia Federal denominada “FAROESTE”, envolvendo Desembargadores, Juízes e servidores do Tribunal de Justiça da Bahia, é de causar enorme tristeza a todos os baianos! Mesmo com a existência da Operação Lava a Jato em curso, essa quadrilha não se intimidou em manipular milhões de reais na venda de sentenças que favoreciam a transferência de milhares de hectares de terras no oeste da Bahia, em nome de laranjas!

Esse é um crime ainda sob investigação e não devo me aprofundar. É doloroso pensar, todavia, que em outros crimes similares praticados por magistrados, a punição foi sempre encaminhá-los à aposentadoria com polpudos salários, sem a penalidade correspondente ao grau de gravidade dos crimes cometidos, principalmente contra o conceito e a honra da instituição jurídica que representam. Existe calamidade maior que essa? Podemos afirmar que não, porque não há nada pior que a vergonha, até mesmo para quem não tem.

A alta cúpula jurídica do Estado, traindo a confiança da sociedade, simbolicamente remete-nos a recordar o assassinato do Imperador Romano Júlio César, no século I, a. C., o qual, antes da morte, identificou o próprio filho entre os seus algozes: ATÉ TU, BRUTUS? No caso em tela, e com um toque de baianidade, a resposta seria: SIM PAINHO...!

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA

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