"Até uma mulher grávida faria gol no Grêmio", disse o técnico tricolor, Renato Gaúcho, depois da goleada por 5 a 0 sofrida para o Flamengo na última quarta-feira (23), na semifinal da Libertadores. Além de ficar de fora da decisão, a declaração que compara uma situação desfavorável com a gestação deu mais motivos para insatisfação de parte da torcida.
O Coletivo Elis Vive, grupo feminista de torcedoras do Grêmio, repudiou a analogia do técnico. "Foi totalmente machista. A fala dele coloca a mulher grávida em uma posição de inferioridade, e não é a primeira vez que técnicos usam mulheres para fazer esse tipo de comparação", disse à reportagem Patrícia Ferreira, 42, porta-voz do coletivo que leva o nome da cantora gaúcha e gremista Elis Regina.
Para a torcedora, é comum o técnico usar expressões citando o que ele desqualifica. Nesse caso, foi a figura da mulher. "Ele sempre usa esse tipo de expressão, quase sempre ofensivas a alguém ou um grupo. Esse comportamento machista é usual por homens que não conseguem admitir erros ou falta de competência. É a estrutura do machismo social institucionalizado", disse Ferreira.
Não é a primeira vez que o técnico usa essa expressão. "Até uma mulher grávida faria gol na gente", disse Renato Gaúcho em 2005, quando treinava o Vasco. Seu time tinha acabado de ser derrotado por 7 a 2 pelo Atlhetico.
Para o Coletivo Elis Vive, casos como esse só deixarão de ocorrer quando os clubes e a CBF cobrarem uma postura que não tolere machismo, homofobia e racismo. O grupo integra a Tribuna 77, torcida antifascista e que luta por um estádio com mais diversidade e sem preconceito.
"Se buscarmos os registros da imprensa acharemos inúmeras declarações de Renato que nos desagradam", diz Ferreira. Uma delas, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, defendeu seu voto no presidente Jair Bolsonaro (PSL), que já se manifestou diversas vezes contra minorias, a comunidade LGBT e negros, por exemplo.
Na mesma entrevista, o técnico também falou sobre jogadores homossexuais: "Se eu tenho um jogador gay, vou sacanear ele de manhã, de tarde e de noite. Eu quero é que ele jogue. O que não pode é misturar as coisas: entrar no vestiário de sacanagem por ser gay e levar mais para o lado gay dele do que para o trabalho. Aí ele tá fora comigo."
O coletivo diz que luta por democracia e, por isso, respeita o apoio de Renato a Bolsonaro. Porém, rechaça "posicionamentos que colocam mulheres e homossexuais, por exemplo, em situação de inferioridade para demarcar com sua equipe a falta de resultado no futebol". "Nós repudiamos muito. E sempre", enfatizam as torcedoras.
"Temos que saber separar o ato de torcer por nosso time do coração e o de apoiar ou se calar diante de manifestações preconceituosas e violentas, sejam elas vindas da torcida, do técnico, dos jogadores ou dirigentes. O que o nosso coletivo busca é que os estádios sejam ambientes cada vez mais acolhedores para quem quer torcer pelo seu time, independentemente de sua raça, cor, gênero ou crença", explica Ferreira.
O coletivo de cerca de 60 gremistas iniciou sua mobilização em novembro do ano passado, após o discurso feminista da apresentadora gaúcha e gremista Fernanda Lima, durante o programa Amor e Sexo, da Globo. O discurso de Fernanda repercutiu positivamente no grupo de WhatsApp da Tribuna 77. Foi quando surgiu a ideia de organizar as mulheres em um núcleo próprio.
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