Um território sagrado, palco de uma das maiores experiências de comunidades autônomas e, ao mesmo tempo, da violência e opressão do Estado brasileiro. Foi em Canudos (BA), no último final de semana, que dezenas de jovens do campo e da cidade dos estados da Bahia e Sergipe revisitaram a história do Arraial de Belo Monte buscando fortalecer os processos de resistências atuais.
O Intercâmbio da Juventude foi realizado durante a 32ª Romaria de Canudos, que teve como tema "Canudos, terra fértil da esperança e liberdade". A troca de experiências - organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Pastoral do Pescadores (CPP) e Cáritas – reuniu jovens de comunidades tradicionais de fundo de pasto, quilombolas, pescadoras, de assentamentos e organizações e movimentos populares.
Uma visita ao Parque Estadual de Canudos fez parte da programação do Intercâmbio. No Parque, os/as jovens visitaram locais históricos da Guerra de Canudos, a exemplo do Vale da Morte, Hospital de Sangue e o Alto da Favela. Para o jovem da comunidade Barra do Brejo, do município de Pilão Arcado (BA), Maique Ribeiro a vista do açude, construído para apagar a história do arraial, foi o que mais chamou a atenção na visita. "O arraial foi coberto com água, mas o açude não apaga a memória do sangue dos inocentes", comentou o jovem, que acrescentou que "a história de Canudos inspira a resistência de nossas comunidades".
Após a visita ao Parque, os/as participantes do Intercâmbio realizaram um momento de conversa sobre a luta das comunidades hoje à luz da história de Canudos. Ruben Siqueira, integrante da Coordenação Nacional da CPT, facilitou o momento inicial do debate. "Nosso povo tem capacidade de auto-organização, de autonomia, por que a gente não cultiva isso? Porque nos ensinaram o contrário nas escolas. Ninguém passava fome em Canudos. Como pode 25 mil pessoas comendo, 5 mil casas, uma ao lado da outra, qual era o segredo? Organização popular, autonomia, autossustentação," destacou Siqueira.
Em rodas de conversas, os jovens debateram sobre as temáticas terra e território, água, comunicação e protagonismo juvenil. "A gente conversou sobre os problemas que estamos enfrentando em nossas comunidades, como as empresas que tentam invadir nossos territórios. Algumas comunidades já estão bem engajadas na defesa da terra, mas tem algumas que ainda têm dificuldade de se reconhecerem enquanto comunidades tradicionais", comentou Marcelo de Deus, da comunidade Umbiguda, município de Mirangaba (BA).
Os/as integrantes do Intercâmbio também participaram da programação geral da Romaria, que contou com exibição de filmes, mesas redondas e celebrações. Para Roseane Santos, do Assentamento Barreiro em Jacobina (BA), a ida a Canudos foi a realização de um sonho. "Eu sempre ouvia desde criança minha mãe falar sobre a Guerra de Canudos, eu tô cheia de alegria de ter participado", disse.
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