Bispo de Juazeiro emite “Mensagem de Indignação e Solidariedade” a comunidades atingidas por mineradora em Campo Alegre de Lourdes/BA

04 de Oct / 2019 às 13h14 | Variadas

DOM CARLOS ALBERTO BREIS PEREIRA, OFM (DOM BETO)
BISPO DA DIOCESE DE JUAZEIRO – BAHIA

ASSIM DIZ O SENHOR TODO-PODEROSO: AI DOS QUE VIVEM DESPREOCUPADAMENTE EM SIÃO, OS QUE SE SENTEM SEGUROS NAS ALTURAS DE SAMARIA! OS QUE DORMEM EM CAMAS DE MARFIM, DEITAM-SE EM ALMOFADAS, COMENDO CORDEIROS DO REBANHO E NOVILHOS DO SEU GADO; OS QUE CANTAM AO SOM DAS HARPAS, OU, COMO DAVI, DEDILHAM INSTRUMENTOS MUSICAIS; OS QUE BEBEM VINHO EM TAÇAS, E SE PERFUMAM COM OS MAIS FINOS UNGUENTOS E NÃO SE PREOCUPAM COM A RUÍNA DE JOSÉ. POR ISSO, ELES IRÃO AGORA PARA O DESTERRO, NA PRIMEIRA FILA, E O BANDO DOS GOZADORES SERÁ DESFEITO (AMÓS 6,1.4-7)

Amados diocesanos, caros irmãos e irmãs,

Paz e Bem!

É à luz da Palavra de Deus proclamada em nossas liturgias no último domingo (29 de setembro) que venho manifestar com o afeto e o zelo de Pastor minha indignação diante do drama imposto a tantas famílias e comunidades rurais de Angico dos Dias, no Município de Campo Alegre de Lourdes nestes últimos anos pela Unidade de Mineração Galvani. Como pude ouvir atentamente dos moradores em visitas realizadas naquela comunidade, desde a implantação dessa mineradora, em 2005, a lagoa – principal fonte hídrica – tornou-se contaminada e absolutamente inapropriada para uso; além disso, o ar também contaminado tem provocado problemas respiratórios e outros males nos seus moradores. Nestes últimos dias a situação se agrava com a detonação de explosivos que deixam atemorizados os moradores e colocam em risco estruturas frágeis de suas residências e cisternas. Há três anos tais explosões já provocaram danos e prejuízos a tantos que já vivem privados de direitos fundamentais.

Sabemos que a avidez pelo lucro de empresas desse ramo tem gerado morte e sofrimento em todo o Brasil e os casos gritantes de Brumadinho e Mariana acenderam luzes de alerta que jamais podem ser extinguidas. Fica sempre mais evidente que o lucro e os sucessos nas cotações importam incomparavelmente mais que vidas humanas e de tantos outros elementos da Criação, nossa Casa Comum. Os pobres – figurados por José nas palavras do Senhor através de Amós – permanecem não sendo objeto de preocupação dos poucos que se beneficiam com as riquezas da terra.

Denunciando tal situação, colocamo-nos pois ao lado dos moradores das comunidades em situação de medo e sofrendo os efeitos dos impactos ambientais do citado empreendimento suplicamos às autoridades competentes medidas firmes e eficazes no sentido de garantir os direitos das populações locais e, assim, a justa qualidade de vida para todos. A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e a Comissão Pastoral da Terra tem oferecido solidariedade e apoio concreto às famílias, o que conta com nosso apoio e comunhão.

Que nestes tempos de epidêmica indiferença diante de dores e sofrimentos impostos a tantos, como tanto nos adverte o Papa Francisco, deixemo-nos “contaminar” e contagiar pela terna compaixão, possibilidade indispensável para construirmos juntos uma sociedade onde os privilégios de alguns não tolham direitos de muitos. Que a “ruína de José” não nos encontre anestesiados e apáticos.

+ Carlos Alberto Breis Pereira

Confira o documento original da Mensagem assinada por Dom Beto Breis: aqui.

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