Em 25 de janeiro, a barragem I da mina Córrego do Feijão rompeu em Brumadinho (MG), liberando 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração e deixando 248 mortos – 22 pessoas ainda estão soterradas. O impacto não foi só em vidas. Além de destruir uma área de aproximadamente 300 hectares, a lama tóxica atingiu o rio Paraopeba, que registrou presença de rejeitos de mineração na usina hidrelétrica de Retiro Baixo, a 318 km do local da tragédia.
Oito meses após o crime da mineradora Vale, a aldeia Naô Xohã teve seu modo de vida destruído pela morte do rio Paraopeba. A comunidade com cerca de 200 indígenas das etnias pataxó e pataxó Hã Hã Hãe reivindica, desde o fim de agosto, junto ao Ministério Público Federal (MPF), a realocação para outro território. A área deve ser disponibilizada pela Vale, que irá se reunir nas próximas semanas com os indígenas e o MPF para negociar a disponibilização da nova localidade.
A 22 km de distância da mina Córrego do Feijão, palco da tragédia, a comunidade indígena não têm acesso regular à saúde, a água de qualidade, e sobrevive da venda de artesanatos e da indenização emergencial paga pela Vale no valor de um salário mínimo.
“Na Nahô Xohã, o local que estamos hoje, não tem como a gente tá ali por causa do rio, da poluição, nosso solo foi contaminado também. Então, a gente decidiu que a Vale tem que dar outro território pra gente. Todo mundo na Naô Xohã já decidiu. Nós não decidimos nada sozinho. Reunimos todo mundo e chegamos a conclusão que é o melhor pro nossos filhos, nossos netos e todos nós”, conta Arakuã Pataxó Hã Hã Hãe, primeiro cacique e fundador da aldeia.
Desde quando chegaram à localidade, em 2 de novembro de 2017, os pataxós vinham aguardando pela regularização fundiária do território em que ocupam às margens do rio, no município de São Joaquim de Bicas. Com a morte do rio, a reivindicação mudou.
O pedido de realocação de território foi feito em reunião na sede do Ministério Público Federal (MPF), em Belo Horizonte, no último dia 27 de agosto. No encontro, foi levantada outras demandas prioritárias pelos indígenas, como a questão da qualidade da água fornecida pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) e paga pela Vale.
Segundo relato das lideranças presentes no local, a alta quantidade de cloro na água vem causando rachaduras na pele e coceiras entre a população da aldeia – por não estarem habituados ao consumo da substância.
A água clorada também vem causando a morte das plantações da comunidade. Foram observadas erupções e manchas na terra, situação constatada pelo próprio antropólogo da Vale em visita a aldeia – e registrada na Ata da reunião.
Além da irrigação das hortas, a água do rio era usada para banho, rituais, lavagem de roupas e louças. Além disso, o peixe era o principal alimento para sobrevivência.
"A poluição impede com que eles pesquem, a alimentação tradicional deles está prejudicada, os rituais culturais que eles faziam na beira do rio não fazem mais. A partir de todo esse contexto, eles apresentaram essa deliberação", conta o procurador da república Edmundo Antônio Dias, membro da força-tarefa do Ministério Público Federal de Minas Gerais, responsável por investigar o crime da Vale em Brumadinho.
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