A crise no transporte aéreo de Petrolina gerada pela saída da Avianca do mercado local se agrava e tem previsão de provocar, este ano, uma queda de 33% na movimentação de passageiros no Aeroporto Senador Nilo Coelho.
Os empresários que atuam no Polo Petrolina/Juazeiro – um dos centros mais relevantes do agronegócio do país – estão entre os maiores prejudicados pelo gargalo logístico, resultado de dois efeitos danosos: redução da oferta (de oito voos diários para cinco) e aumento das passagens, como reflexo da concentração das operações na Azul e Gol.
As projeções evidenciam o estrago provocado por essa crise numa região que, puxada por Petrolina e Juazeiro, tem uma área de influência constituída por 75 municípios, soma um PIB de R$ 25 bilhões e reúne uma população de 2,1 milhões de habitantes. Esse é o mercado que depende do aeroporto de Petrolina, que tem capacidade máxima de 1 milhão de passageiros/ano e vinha mantendo uma média de 500 mil a 600 mil viajantes/ano até 2018. Esse ano, a previsão da Prefeitura de Petrolina é de que o número caia para em torno de 400 mil passageiros.
Atualmente, o aeroporto registra uma queda de 12 mil viajantes/mês, de 47 mil para 35 mil viajantes, de acordo com as estatísticas da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo. O secretário Tiago Brito analisa que esses dados refletem a migração dos usuários para o transporte terrestre e uma redução na compra de passagens pelas empresas, assustadas com as tarifas da Azul e GOL.
As duas companhias, na prática, passaram a controlar o mercado local após a entrada da Avianca em recuperação judicial. A empresa operava três voos diários - Petrolina/Recife (dois) e Petrolina/Salvador (um) - suspensos em maio. Hoje, a oferta está restrita a três frequências diárias da Azul (duas na rota Petrolina/Recife e uma Petrolina/Campinas), uma da GOL (Petrolina/Guarulhos) e uma da Passaredo, companhia pequena, sem capacidade para exercer uma influência de peso nesse cenário, mas vista como uma solução emergencial para evitar que Petrolina ficasse sem linha para a capitação baiana. A Prefeitura de Petrolina atuou nas articulações junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) para atrair a companhia.
Neste cenário de pouca competição, as companhias viram espaço para elevar as tarifas à estratosfera. Antes da saída da Avianca, o preço de um voo de ida e volta Petrolina/Recife variava, em média, entre R$ 400 e R$ 1.200. Atualmente, a passagem chega a custar mais que R$ 3.500,00 a depender da companhia e dos dias de viagem. Entre Petrolina e Salvador a média do preço é de R$ 2000,00.
“Em alguns dias e horários, esse valor, para uma viagem de pouco mais de uma hora e 700 quilômetros, chega a ser mais alto que o de uma viagem para Miami, a seis mil quilômetros e sete horas de deslocamento”, afirma o secretário executivo de Gestão e Políticas Públicas da Secretaria de Turismo de Pernambuco, Antônio Neves Baptista. “A Avianca, de fato, cobrava mais barato. Hoje, estamos nas mãos da Azul e Gol”, critica o gerente executivo da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), Tássio Lustosa.
Pressionados pela oferta restrita e preços astronômicos, os empresários e outros agentes econômicos de um polo exportador que reúne investidores e clientes de diversos países têm apelado para várias alternativas. Substituir, quando possível, viagens por chamadas de vídeo no WhatsApp e Skype e até trocar o avião por vans executivas e ônibus estão entre as opções. No caso do deslocamento por terra, vale ressaltar que o tempo de viagem varia entre dez e 12 horas.
“Nem sempre as alternativas são viáveis, dependendo da necessidade, das questões estratégicas em jogo e do fator tempo. Em algumas situações, é preciso ficar refém das companhias, adequar a agenda aos horários com disponibilidade de voos e pagar caro”, dispara Tássio Lustosa. Segundo ele, esse quadro adverso tem criado grande dificuldade para o deslocamento de investidores com negócios no polo, gestores e executivos das empresas que atuam na região e clientes e técnicos das instituições que operam na área.
Os relatos se repetem em outros segmentos, além do agronegócio. “Em casos mais extremos, quando os preços chegam ao limite do absurdo, temos cancelado reuniões estratégicas, participações em eventos e outros compromissos. Há um dano do ponto de vista de gestão e relacionamento com o mercado”, relata o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Petrolina (Sindlojas) e conselheiro do Sistema S em Pernambuco, Joaquim de Castro.
“Em agosto, convidamos oito executivos da direção estadual do Senac, em Recife, para a aula inaugural do curso de Gastronomia da entidade. O orçamento das passagens de ida e volta ficou num patamar surreal, na casa dos R$ 20 mil. Eles optaram por viajar de van, com uma despesa obviamente muito menor, mas com um tempo de viagem de praticamente um dia na estrada”, conta o empresário.
Dono da Construtora que atua em Petrolina e no Recife, Albânio Venâncio diz que chegou a viajar de ônibus para não pagar R$ 2.250 no trecho Recife/Petrolina. “Estava com a passagem de volta comprada por R$ 250 à Azul. Fiz a compra com três meses de antecedência, como é regra na minha empresa. Houve compromissos de negócios, de última hora, e precisei trocar o voo, da tarde para a noite. Para a troca, teria que pagar à companhia uma diferença de R$ 2 mil. Preferir desembolsar R$ 200 e voltar pela estrada”, relata.
Empresário que tem lojas em Petrolina, Juazeiro e Senhor do Bonfim (BA) - Jozeilton Soares teme os assaltos na estrada e definiu outra estratégia para encarar a crise aérea local. “Meu principal fornecedor tem central de distribuição em Jaboatão dos Guararapes (Grande Recife) e tenho mais alguns parceiros importantes na Região Metropolitana. Por isso, viajava duas vezes por mês ao Recife. Com os preços atuais, é impossível manter esse ritmo. Reduzi a frequência para uma viagem a cada 60 dias e passei a usar mais o Skype”, diz.
Ele ressalta que essa mudança cria desafios de gestão, pois, dependendo da demanda, nem sempre a comunicação à distância gera o mesmo resultado que a presencial. Mas foi a solução encontrada diante de um mercado aéreo que rompeu as fronteiras da racionalidade econômica e do respeito ao consumidor. “É um abuso a Azul cobrar, em alguns horários, R$ 2,5 mil num único trecho da rota Recife/Petrolina. Esse foi o valor que eu paguei recentemente no bilhete de ida e volta para uma viagem de férias a Miami”, compara, com a propriedade de quem viajou aos Estados Unidos pela Azul.
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