Dom Inocêncio, município que fica a 615 km de Teresina, no sertão do Piauí, tem uma característica marcante. A cada 35 habitantes, pelo menos 1 é sanfoneiro, parece que está no sangue. Tanto talento, até então desconhecido, agora ganha visibilidade, com a criação do Monumento Sanfona e do Dia Municipal da Sanfona, que será comemorado, todos os anos, em 20 de setembro.
O idealizador do projeto é Sandro Dias de Sousa, o Sandrinho do Acordeon, o sanfoneiro que está mudando a realidade da região. Ele coordena a Associação Cultural Acordes do Campestre, que ensina, gratuitamente, mais de 200 crianças a tocarem instrumentos musicais em Dom Inocêncio e a vizinha cidade de São Raimundo Nonato.
Sandrinho nasceu na Bahia, mas foi em Dom Inocêncio que aprendeu seus primeiros acordes na sanfona, incentivado pelo pai, Salvador Nunes, que tinha uma banda com os irmãos. O pai inclusive foi taxado de louco na cidade quando vendeu sua única casa e sua caminhonete para comprar uma sanfona e realizar o sonho do filho.
Tudo valeu a pena. Aos 25 anos, é tri-campeão no Concurso de Sanfona de Petrolina (PE), participou de festivais em vários estados do país e fechou parcerias com cantores nacionalmente famosos como Zezé di Camargo e Luciano, Waldonys, Dorgival Dantas. Hoje a família vive da música.
Mas sua maior vitória mesmo é o projeto social que montou no bairro Campestre, onde mora. "As crianças tocam sanfona, zabumba, triângulo, flauta doce, violão, tudo de graça, não recebemos nada, todo o trabalho é voluntário. A sanfona é muito cara, não teria como eles terem. Então nós conseguimos os instrumentos por meio de doações, como no Programa do Luciano Hulk e damos as aulas voluntariamente. Temos vários alunos que já tocam em bandas e vivem da música, alunos premiados em festivais. Isso é gratificante", diz Sandrinho.
A Associação foi criada em 2011 e foi a partir dela que foi construída a maior sanfona do mundo, na Praça Monumento Sanfona, a 3 km de Dom Inocêncio. São 5 metros e 10 centímetros de altura construídos com recursos arrecadados pela associação, Sandrinho e amigos. "Não tivemos ajuda das autoridades", afirma.
A obra foi iniciada em julho deste ano e já está na fase de pintura. Foi arquitetada por Wanderson Moura e construída pelo artesão João Dias.
A maior sanfona do mundo não deve ser apenas um título, mas o marco de visibilidade para a cidade e região. "A sanfona é algo natural em Dom Inocêncio. Com esse monumento, fortalecer nossa tradição, colocar o município no calendário nacional, talvez até internacional, de eventos culturais", declara Sandrinho, confiante.
Além do monumento, a Associação conseguiu aprovar na Câmara Municipal o Dia Mundial da Sanfona. A cidade também terá o Selo da Terra do Sanfoneiro e, para garantir a atração do público, será realizado um festival anual de sanfona.
"A sanfona deve gerar uma economia forte, atrair turistas. A ideia é que isso traga mais visibilidade e também mais recursos para a cidade, divulgando nossa região para todo o Brasil", finaliza.
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