República dos Mentecaptos, uma hilariante história de mandriões, cortesãs, espertalhões e certos valdevinos de modo geral, é o mais novo livro do jornalista, escritor e conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, Fernando Vita, que será lançado, nesta quinta-feira (12.09), na Livraria Saraiva do Shopping Salvador. Assim como em suas duas últimas obras, Cartas Anônimas (2011) e O Avião de Noé (2016), também lançados pela Geração Editorial, a história se passa em Todavia, cidade imaginária situada no recôncavo baiano, e conta as aventuras do prefeito Augusto Magalhães Braga, o AMB, um devotado “carlista” que quer fazer seu ídolo, o então governador, Antonio Carlos Magalhães, “Presidente da República da Bahia”, e ele próprio, de quebra, governador de Todavia – seu município – agora transformado em estado.
Desta vez, o livro conta com elementos de uma autoficção, já que o autor-personagem conduz a narrativa e conta a história do transloucado prefeito – de quem acabou sendo nomeado assessor, por recomendação de Antonio Carlos Magalhães, que providenciou a sinecura para mantê-lo fora da Cidade da Bahia nos anos mais duros da “gloriosa revolução democrática de 1964”. Isto para evitar que levasse uns tabefes dos milicos depois que o dito cujo foi acusado de ter um viés comunista.
Refugiado em Todavia, passa a conviver com malucos, malandros, espertalhões e mulheres - da vida ou não -, entre outros personagens da província, e a viver os dramas do cotidiano do poder municipal, das disputas políticas, das traições, dos conchavos. Participa e tenta até mesmo consolar o prefeito atingido por um infausto episódio de traição conjugal – não por parte da mulher, mas da amante, o que é pior. Para ajudar a polir os cornos, por recomendação de ACM, guia o prefeito AMB por um tour no Primeiro Mundo, por Paris, Roma e Lisboa em busca de experiências administrativas exitosas a serem implementadas em sua Todavia e até mesmo, falsamente justifica, de recursos fartos de organismos financeiros internacionais para custeá-las.
O problema é que o prefeito AMB não tira da cabeça o plano maluco de transformar a Bahia numa República, para que seu líder, ACM, possa exibir a faixa de presidente no peito. E ele próprio, o título de governador, já que todos os muitos municípios seriam transformados em estados, distritos em municípios, vilas em distritos, paróquias em dioceses e por aí vai, numa louca revolução sem outra arma que não a caneta do poderoso caudilho baiano e que não deixaria de atingir nem mesmo a justiça, com simples comarcas virando tribunais de justiça e tribunais de todas as bitolas ganhando estágio bem superior, de supremos seriam chamados.
A história é contada por Fernando Vita em seu estilo único na literatura brasileira, já consolidado nas obras anteriores, como Tirem a doidinha da sala que vai começar a novela (Casa de Palavras, Fundação Casa de Jorge Amado, 2006), Cartas Anônimas – Uma hilariante história de intrigas, paixão e morte (Geração Editorial, 2011) e O avião de Noé – Uma hilariante história de inventores, impostores, escritores e outros malucos de modo geral (Geração Editorial, 2016). Isto é, num texto falado, cujo ritmo envolve o leitor na trama e o faz “se embolar de rir” - como se diz na Bahia.
Fernando Vita não nega a forte influência em sua obra, de mestres da linguagem, como José Saramago, e de magos, como Gabriel Garcia Márquez. “Muitos dos meus personagens – e não falo daqueles identificados com os próprios nomes – eu os conheci nas ruas e praças da minha Todavia. Para compor alguns, dei umas pinceladas mais fortes nas cores da loucura, da esperteza, da safadeza. Já em outros casos, até amenizei as características, porque eram uns bons filhos da puta dos pés à cabeça sem que eu precisasse contribuir em nada para tanto.”
República dos Mentecaptos, segundo Fernando Vita, não encerra ainda o ciclo de obras ambientadas na surreal Todavia – cidade preguiçosa e que reúne uma plêiade de desajustados, malandros e vivaldinos – situada na região do recôncavo baiano. “Pensei mesmo em, bem feliz, encerrar o ciclo com a República dos Mentecaptos porque sempre quis um dia ousar escrever algum romance que fosse mais enfático na mistura de fatos reais, com imaginários, personagens verdadeiros – alguns vivos, outros muito vivos! - com outros saídos da minha imaginação. Uma espécie de biografia ficcional, o que os mais modernos que eu tratariam por autoficção, uma palavra nova e da moda, daí que foi assim que nasceu o República. Mas, ao remexer nos meus guardados memoriais para dar cabo de escrever o livro, outras absurdas tramas me aparecem e eu, pelo menos por enquanto, não as vejo se desenrolando fora de Todavia”.
Segundo ele, agora ou como quando escreveu seus romances anteriores, a tarefa foi muito facilitada por ter convivido, nos primeiros quinze anos de vida, com os muitos e variegados pirados de sua Todavia. “Garcia Márquez tem a sua Macondo, o siciliano Andrea Camilleri, a sua Vigàta, por que eu não poderia imaginar e fazer-me dono da minha tão cara e sempre assaz lembrada Todavia? E assim se deu”. Vita destaca ainda a participação em toda a trama relatada em seu livro de uma personalidade política polêmica e por todas as razões – as boas e as más - inesquecível aos baianos, o ex-governador Antonio Carlos Magalhães, por ele transformado em personagem – e não poderia deixar de ser – o amado líder político do devotado e maluco prefeito AMB.
Ele lembrou do convívio que teve com o famoso ACM por quase meio século e disse que, como personagem, conta algumas das suas histórias, “reais ou imaginadas - para o bem ou para o mal – pelos que gostavam dele, pelos que não gostavam e pelos que não gostavam nem desgostavam. E agreguei um prefeito, este sim, o adorava tanto que queria ser um ACM revivido, o Augusto Magalhães Braga, o AMB”.
República dos Mentecaptos tem recebido de expoentes das letras e do jornalismo baiano os melhores elogios. O radialista Mário Kértesz, um dos mais influentes formadores de opinião da Bahia, que foi o primeiro a ler os originais do livro, o considera o mais ambicioso e inovador, do ponto de vista de técnica romanesca, entre todos os romances escritos por Fernando Vita, ele, Kértesz, que também esteve entre os primeiros a ler os originais dos livros anteriores do escritor.
Já o jornalista, escritor e publicitário João Santana Filho, contemporâneo de Fernando Vita na redação do já extinto Jornal da Bahia quando ambos davam os primeiros passos no jornalismo, classifica República dos Mentecaptos como “uma deliciosa mistura de memória e imaginação, com excelente estrutura e fluxo narrativo. Fernando Vita mostra que é um raro autor, nos vulgares dias atuais da telegrafia literária seca e insossa, capaz de fazer malabarismos e gigantescas piruetas verbais, sem perder o fôlego, nem tropeçar a esmo. Ao contrário, quem perde o fôlego – nunca o prumo – é o leitor, encantado em admiração e prazer”.
O antropólogo e escritor Antônio Risério, um dos mais respeitados intelectuais brasileiros, diz que República dos Mentecaptos “é o melhor retrato de Antonio Carlos e da Bahia interiorana de Antonio Carlos que já vi. Mas também, claro e por isso mesmo, retrato político de um certo ou incerto Brasil”.
O sociólogo, jornalista, escritor e professor da Universidade Federal da Bahia Gustavo Falcón é enfático em destacar que “o República é a cara da Bahia. Tem uma história maravilhosa onde Vita consegue misturar jornalismo com literatura, com um
texto que é dele, só dele. O livro dialoga com a realidade e tem uma ligação completa com o falar do povo baiano. O coloquial, a sacanagem, a picardia típicos da Bahia estão nesse livro”.
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