O clima era de reencontro. Ditado por poesias declamadas, causos contados e melodias relembradas. E nem poderia ser diferente afinal, porque, frente a frente, havia um poeta e um cantador, que, depois de quase quatro décadas, o que mais haveriam de fazer senão reeditar, cada um, a sua arte? Para juntá-las novamente depois, é claro. Esse é o propósito dos artistas pernambucanos Maciel Melo e Virgílio Siqueira, que pretendem reeditar uma história iniciada no início da década de 1980, desdobrada nos anos seguintes com o disco "Desafio das Léguas" (1987).
"Foi com Virgílio que aprendi a fazer melodia. Eu pegava os poemas que ele fazia e musicava e foi daí que nasceu o primeiro trabalho, feito integralmente entre ele e eu", contou envaidecido, o cantor e compositor de Iguaraci, cidade do Sertão de Pajeú, mesma região que abrigou as poesias do seu parceiro, filho de Ouricuri.
Com um acervo ainda inédito de pelo menos mais de trinta músicas, a dupla inicia um projeto de releitura do álbum de 1987 com a adição das canções que "ficaram para trás" e passam a ser contempladas em um novo disco. "Estamos nos reencontrando para resgatar o álbum que foi porta de entrada para minha carreira e vamos incluir letras e melodias guardadas, e temos muito material pronto", comenta Maciel, autor de "Caboclo Sonhador" e "Que Nem Vem Vem", dois dos sucessos de uma carreira pautada pelo forró.
"Precisei entrar no gênero quando percebi as distorções que estavam começando a fazer com ele. Como sertanejo, filho de forrozeiro e discípulo de Luiz Gonzaga, eu não podia ficar só observando as pornografias pesadas que começaram a adentrar o nosso ritmo e acho que dei conta", salienta ele, que também é poeta e contador de causos e, junto a Virgílio Siqueira, deseja percorrer palcos Nordeste e Brasil afora. "Além de reeditar o 'Desafio das Léguas' - que nunca foi lançado em CD, tampouco nas plataformas digitais - vamos contar histórias, reunindo poeta e cantador em um show", completa.
"Sou de poucas parcerias", salienta Maciel Melo. E, de fato, ele se garante sozinho. Embora cite alguns nomes que seguiram ao seu lado em canções, a exemplo de Petrúcio Amorim, Renato Teixeira, Geraldo Azevedo e Xangai. Mas em se tratando de Virgílio Siqueira, sua predileção em caminhar sozinho toma outros rumos: "Não achava ninguém à altura dele", comenta ele sobre o poeta de Ouricuri. E talvez por isso, o "nada é por acaso" deste reecontro, que em paralelo ao relançamento do disco traz "No Pomar do Estro", livro que compila em pouco mais de 800 páginas centenas de poemas escritos pelo ouricurense.
"São três livros em um só, lançado no ano em que comemorei meus 60 anos de vida, em 2017. Agora a ideia é relançá-lo por meio de uma editora, desdobrando a minha poesia para fazer com que ela chegue ao maior número de pessoas e que possa, por exemplo, integrar rodas de leitura como já acontece em salas de aula de Portugal, onde ele foi entregue nas mãos de uma pesquisadora que esteve no Recife e conheceu minha obra", conta o escritor.
Sob inspiração de paisagens e de pessoas, Virgílio Siqueira segue no viés romântico dos poetas e no abstrato de letras que retratam amores, paixões e realidades sertanejas. "Comecei a escrever aos 15 anos de idade e sigo com a mesma paixão. Tenho escritos inéditos e desejo expandí-los, levar a quem ainda não usufruiu deles, e começar aqui pelo Recife, em um circuito mais profissionalizado e com a 'marca' de uma editora, será recompensador", enfatiza ele que em breve, e integrando o projeto de reedição do seu trabalho com Maciel Melo, deve ter seus poemas referendados pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).
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