ARTIGO - AMAZÔNIA: ÁRVORES OU SUBSOLO?

25 de Aug / 2019 às 23h00 | Espaço do Leitor

No convívio regular com as pessoas, é muito comum se encontrar alguém que fala de maneira desregrada ou, como se costuma dizer, usa de “descontrole verbal” ou que “tem a língua solta”. Isso porque fala o que quer e depois usa de subterfúgios para se explicar de algumas asneiras pronunciadas, nem sempre acolhidas pelos circundantes.

Essa preliminar foi inspirada na reflexão de um leitor, que ao ouvir o Presidente da República discursando ou dando entrevistas e pronunciando alguns exageros verbais, inaceitáveis e incompatíveis à relevância do cargo que exerce, torceu a cara inconformado, e me disse: “Pôôô, se ele parasse de falar e trabalhasse, apenas, até seria um presidente melhor! ”. Compreendi o desabafo e concordei com o seu sentimento de revolta, no tempo em que me questionei se não há na equipe alguém que, mesmo tendo que respeitar a hierarquia do cargo, possa orientá-lo a uma mudança de tom e atitude, no sentido de falar menos e o indispensável? É mais do que oportuno que alguém no governo faça uma releitura do provérbio português, que recomenda que “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”! Pelo jeito, na equipe esse alguém não existe...

Será que nenhum Ministro ou Assessor direto vai cair na realidade, de que uma oposição falida e responsável pela tragédia moral e econômica a que o país foi submetido nos últimos anos, de repente, está de cangote em pé, esbravejando em alto e bom som, justamente porque essas bobagens no palavreado oficial vêm oferecendo o subsídio de que precisava para emergir do ostracismo político em que se encontrava? Será que não conhecem as palavras prudência e decência para o cargo que ocupam?

Como em todo governo, principalmente com poucos meses de gestão, é natural que ocorram acertos e erros na adoção de certos atos administrativos. Mas, falar precipitadamente e aqui ou acolá voltar atrás em determinadas afirmações, evidencia uma grande imaturidade. Vamos assim chamar, para não dizer falta de responsabilidade e cuidado com as palavras proferidas.

Mas, o centro de tudo nesta semana, está focado na triste tragédia das queimadas voluntárias ou involuntárias da Floresta Amazônica, ou até criminosas – por que não imaginar? –, que está produzindo um reflexo negativo de grande amplitude e de consequências ainda não bem avaliadas. Se é visível a inabilidade com que o problema está sendo tratado, de outra parte está a grande imprensa nacional, que foi desprezada pelo governo na distribuição da sua verba publicitária, assumindo a postura da desconstrução e da vingança, numa dimensão de grande impacto, inclusive no campo internacional. Ou seja, querem minar o homem de fora para dentro...

É indiscutível que não se pode menosprezar os graves prejuízos ambientais decorrentes da queimada descontrolada da floresta, e inaceitável qualquer omissão oficial no sentido de combater a continuidade do fogo que tudo destrói. É relevante, porém, que se faça uma análise séria e honesta dos motivos subjetivos que fazem despertar uma repentina paixão de estadistas europeus que, ao invés de se mobilizarem para uma ação solidária de apoio ao governo brasileiro, disponibilizando recursos materiais, equipamentos e tecnologia adequados para ajudar no combate ao fogo, estão convocando reunião do G-7, que reúne as potências econômicas e políticas, como se pretendessem defender com unhas e dentes algo que lhes pertence. Esse questionamento traz à lembrança uma frase do falecido professor, médico cardiologista, físico e escritor Enéas Carneiro, sobre esse pretenso interesse: “Se fossem as árvores, bastaria reflorestar as terras deles”! Segundo ele, a questão não está no subjetivo, e sim “no subsolo” (vide ilustração). À boca pequena, correm comentários de que a Amazônia está infestada de estrangeiros de várias nacionalidades disfarçados de religiosos e integrantes de ONGs!

Ao viralizar a notícia do incêndio, foi criado um clima de terrorismo de tal forma, que na pressa utilizaram nas redes sociais fotos de queimadas de 20 anos atrás, a exemplo do Presidente Francês e da modelo brasileira Gisele Bündchen, além do jogador Cristiano Ronaldo, que usou uma foto do Rio Grande do Sul!

Entendo que a desgraça do incêndio tem de ser contida, mas, tratada com responsabilidade, humanidade e participação solidária, e não com ameaças chantagiosas da Europa contra o Mercosul, usando o Brasil como réu, só porque o povo contrariou na escolha de um Presidente que não é da simpatia deles.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.

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