Naturalmente que o leitor atento estará corrigindo o autor que, talvez, tenha cometido um grande equívoco ao inverter a ordem dos fatores no título acima, uma vez que a expressão é conhecida popularmente como “Toma lá, dá cá”, e é traduzida como: “a troca de favores, na qual quem favorece alguém é por este favorecido”. Seria essa a definição adequada para as relações pessoais, quando representa o gratificante sentido de retribuir um belo gesto de humanidade, cortesia e educação, o que engrandece e dignifica o convívio social entre os humanos, ao oferecer algo similar em retribuição. De repente, nas altas esferas parlamentares e governamentais a coisa é diferente. O relacionamento foi corrompido e maculado pela presença da MOEDA como instrumento de compra ou troca, a intermediar votos e decisões, cuja regra se institucionalizou como PRÁTICA CRIMINOSA E INDIGNA! Procura-se o inventor de tão sórdida maneira de legislar em favor do próprio bolso, sem olhar para trás e lembrar as pessoas das quais receberam o voto de confiança! Isso tem nome? Tem sim: traição, safadeza e enganação.
Mas, a preliminar acima ainda não definiu o motivo da inversão da frase, o que, progressivamente, se entenderá. Em algumas oportunidades aqui foi recordado, exaustivamente, de que a corrupção é uma herança com raízes históricas. Antes dessa convicção significar um consolo ou uma maneira do brasileiro se conformar, essa saga nos envergonha.
Entra Governo, sai Governo, entra Legislativo, sai Legislativo, e em cada etapa renovam-se as esperanças de mudança de perfil, de que um novo caráter introduzirá novos ritos comportamentais e de que novas promessas eleitorais se concretizarão de fato. E a decepção somente se renova.
É interessante ver como a memória dos políticos entra em estado letárgico, e os discursos demonstram um total esquecimento de episódios não muito distantes. Ao acompanhar os debates e votação da PEC da Reforma da Previdência Social, ao longo da semana, foi impressionante notar como foi dada ênfase pela Oposição à notícia de que o atual governo comprou os votos dos Deputados para assegurar a aprovação da reforma, através da liberação das famosas Emendas!
Não estou aqui para duvidar da veracidade dessa acusação, nem confiar na pureza das articulações do governo. Mas, também seria ingênuo acreditar na integridade dos discursos de protestos incisivos de Deputados que em tempos recentes aprovaram a PEC da reeleição de Fernando Henrique, que atuaram no Mensalão de Lula e que fizeram fila no Hotel Golden Gulip, em Brasília-DF, quando Lula coordenava os votos parlamentares para evitar o impeachment da Dilma! E o que estava por trás em todas essas votações? Bilhões de reais em Emendas Parlamentares... O interessante, olhando para trás, é que tudo isso foi feito em plena luz do dia, sob o olhar complacente de boa parte da imprensa implacável nesses últimos 6 meses.
Chega a ser incompreensível tanto ódio dos petistas e psolistas contra a Reforma da Previdência, se há inúmeros vídeos gravados com discursos e entrevistas passadas de Lula e Dilma indicando a necessidade de urgente reforma, segundo eles, objetivando adequar e atualizar as Leis Previdenciárias à evolução dos índices de longevidade da população! No conjunto, é possível ocorrer alterações não tão aceitáveis, mas, por que não buscar o debate justo e o aperfeiçoamento da proposta, ao invés de fazer sucessivas proposições regimentais visando somente obstaculizar o processo? É fugir ao debate honesto e democrático, para atender apenas aos interesses ideológicos e partidários... Em outras palavras, só presta e tem valor o que vier da parte dos petistas e psolistas, permanentemente de plantão para dizer NÃO a tudo?
Entendo que todos reconhecem o quanto é difícil e complicado encarar as Reformas que se fazem necessárias, não somente de caráter previdenciário, mas de política tributária e fiscal, e o urgente redimensionamento do tamanho do Congresso Nacional, com a redução à metade do número de Deputados e Senadores, que resultará na readequação da sua exagerada estrutura física atual. Quem acredita que um dia isso vai acontecer? Ninguém!
Em todo esse cenário, há uma reforma que se faz mais impositiva e que a partir dela as demais se viabilizarão: a mudança de caráter! Enquanto essa não se tornar uma realidade, prevalecerá a mudança apenas na frase popular: DÁ CÁ e... TOMA LÁ!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.
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