ARTIGO - CHEGA DE SAUDADE

08 de Jul / 2019 às 19h07 | Espaço do Leitor

Carlos Augusto - Médico/Advogado

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira foi, antes de tudo, um gênio, no seu jeito próprio de ser. Nascido em Juazeiro, mas não pertencia a Juazeiro, isso porque seu talento era maior que a sua própria terra natal e, desde cedo, ele sentiu necessidade de alçar voo para outras plagas, afim de que seu talento fosse conhecido além fronteiras, fosse conhecido para o mundo e pelo mundo.

João não foi da minha geração, porém eu não faço parte daquele grupo que diz que ele não ligava para a sua terra natal. João cultivava uma máxima que dizia que “um homem nunca deve voltar ao lugar onde ele foi feliz”. Era essa a causa que o levava a não vir frequentemente à sua terra natal.

Quando aqui ele chegava queria repetir os mesmos hábitos da época de quando daqui saíu. Curtir a lua beijando rio, na cais da sua cidade nas madrugadas. Tocar violão debruçado sobre o cais de Juazeiro, nas noites de luar. Mais o cais de seu tempo, nem sequer existe mais! Procurava seus amigos, que com ele formaram seu primeiro grupo musical, porém eles também haviam partido.

Inclusive, o escritor juazeirense, Joselino de Oliveira, no seu livro intitulado “Do alto falante à TV”, colocou uma foto muito antiga daquele grupo, composto por João, Cacá de seu Cazuza, Seu Galo e Edésio Santos. Era, portanto, um quarteto.

Cacá de Cazuza, logo que João migrou para o Rio de Janeiro, começando a sua carreira de sucesso, entrou no antigo BANEB, passando assim a ser transferido para outros lugares, a mercê da Direção do Banco; Seu Galo passou a fazer seu programa na Rádio Cultural, de propriedade do Senhor Julio Matutino, situada na Travessa Ribeiro, depois entrou para a Companhia de Navegação do São Francisco, (FRANAV), e alguns anos mais tarde precederia ao quarteto na sua ida para o outro plano. Na música, sempre acompanhado do seu violão, ele sempre encontrou aqui, a sua espera, o seu amigo Edésio Santos. Fala-se à boca pequena, que foi Edésio quem ensinou a João a dar alguns acordes no instrumento que o tornaria famoso. Edésio também, logo cedo, foi para a eternidade, formando com Seu Galo metade do quarteto de João, Cacá de seu Cazuza, algum tempo atrás evoluiu para o plano ascendente. Assim sendo, hoje, completou-se no céu aquele quarteto com a chegada do seu quarto membro.

Juazeiro sempre soube ser receptiva ao seu ídolo; também pudera, não seria possível que o mundo todo tenha dito que João Gilberto era um gênio e só a sua própria c terra natal, teria que considera-lo como louco. Será mesmo que ninguém é profeta em sua própria terra? Somente porque não gostava do dia? Somente porque aproveitava as madrugadas quando aqui chegava, para relembrar do seu tempo de juventude quando fazia isso sem correr nenhum risco, ignorando a falta de segurança da nossa cidade? Todo gênio é excêntrico!

Hoje, dia seis de julho de 2019, por volta das 15 horas, João Gilberto, partiu para outro plano, com a serenidade daqueles que nesta vida cumpriram o seu papel.

Sinto não tê-lo conhecido pessoalmente, porém desfrutei, com certeza, da amizade com dois dos seus irmãos, o poeta Pereira de Oliveira, nosso conhecido Dedé, com quem participamos de concurso de poesias, festivais literários, e, sua irmã Vinvinha, com quem mantemos uma cordial e respeitosa amizade.

O mundo todo num flagrante de reconhecimento noticia a morte de João Gilberto, como a morte de um gênio, gênio esse que foi gerado e criado às margens do Rio São Francisco, debruçando-se sobre as aguas barrentas e remansas do velho rio, para no imenso espelho d’água, formado pelos raios da lua, nas madrugadas do cais de Juazeiro, gerar uma batida de violão que impressionasse o mundo.

Chega de saudade, essa saudade que nunca vai chegar e que nunca vai passar.

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