Vinhos e espumantes estão virando uma marca do norte baiano. A região integra o Vale do São Francisco, que no total possui sete vinícolas, duas na Bahia e cinco em Pernambuco, conforme informou José Gualberto Almeida, presidente do Instituto do Vinho do Vale do São Francisco.
"O Vale do São Francisco não tem a entrada de espumantes da Europa [no mercado brasileiro]. Eles [europeus] produzem uma vez por ano, nós produzimos o ano inteiro. A produção de espumantes do Vale do São Francisco tem uma participação crescente no mercado brasileiro e mundial", disse José.
As vinícolas do Vale produziram cerca de 3,2 milhões de litros de espumantes no ano passado, o que corresponde a 15% da produção nacional. Uma das vinícolas da Bahia é a Terra Nova, do Miolo Wine Group que está localizada na cidade de Casa Nova, no norte do estado. Ela produz, por ano, dois milhões de litros de vinhos e espumantes.
Já a vinícola em Curaçá, também no norte da Bahia, faz um trabalho artesanal. Com isso, a produção não é em larga escala. Na primeira safra, a de 2017, foram produzidas 300 garrafas e, em 2018, 600 garrafas.
O cultivo de uva na região do Vale do São Francisco para a fabricação de vinhos começou por volta de 1980 e, desde então, a produção tem crescido, além de se destacar no mercado interno e externo. Atualmente, as sete vinícolas da região empregam mais de 30 mil pessoas direta e indiretamente.
A vinícola de Casa Nova é responsável pela metade da produção de vinhos e espumantes do Vale do São Francisco. No propriedade que fica no meio do sertão baiano, onde predomina a caatinga e o clima é semiárido, há 200 hectares de uva.
A região não tem inverno como em outras áreas produtoras mais frias no mundo, mas isso não impede nem prejudica a produção, já que os vinhedos são irrigados por sistema de gotejamento com as águas do Rio São Francisco, o que possibilita colheitas anuais.
A fazenda da vinícola em Casa Nova produz, por ano, cerca de cinco mil toneladas da fruta. Essa é a prova de que a aposta em uma região talvez improvável para o plantio deu certo.
A vinícola abastece principalmente as regiões sul e sudeste do Brasil, mas tem conquistado admiradores pelo mundo todo.
O moscatel foi medalha de ouro em um concurso na Itália em 2010 e prata no concurso mundial de Bruxelas, etapa Brasil. Em 2017, o brut branco já tinha sido ouro na disputa de Bruxelas e o reserva repetiu o feito no ano passado.
O vinho Testardi Syrah, produzido na vinícola, está entre os 20 melhores vinhos do Brasil. Em 2012 ele foi o vencedor da categoria tinto nacional do concurso Top Ten da Miolo Wine Group, na Expovinis 2012, considerada a maior feira de vinhos da América Latina. O Top Ten é um dos mais importantes e cobiçados reconhecimentos de vinhos realizados no Brasil.
Além de Casa Nova, há também vinícola na cidade de Curaçá, ainda no norte da Bahia. Na cidade localizada no sertão baiano e a mais de 500 km de Salvador, o sommelier e produtor José Figueiredo realizou o sonho de produzir uva e vinho artesanal.
Foi depois de 30 anos trabalhando como sommelier que José conheceu o Vale do São Francisco, na década de 90. Ele conta que escolheu Curaçá para ter a própria produção por causa do clima, do solo, terra vermelha e pedregosa que ele acredita ser muito boa e fértil.
O vinhedo foi implantado em 2015, com menos de um hectare, com seis variedades de uva. Em 2017 veio a primeira safra do vinho VSB, o único produzido artesanalmente na região do Vale do São Francisco. As uvas são cuidadas cacho a cacho e só saem do campo quando estão bem doces.
José Figueiredo explicou que por ser um vinho artesanal, os vinhos fabricados na VSB não são sempre da mesma linha. A cada safra há um tipo de bebida. "A primeira safra tinha 65% de syrah, 25% touriga nacional e 10% de tannat. Já a de 2018 foram 45 syrah e 55% tannat e a de 2019 será malbec", explicou.
Agora, Figueiredo vai para a quarta colheita desde quando a vinícola foi criada e guarda alguns detalhes dos negócios, afinal ele não conta todo o segredo da produção.
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