Plantas nativas da Caatinga, espécies frutíferas e de ciclo curto convivendo harmoniosamente na mesma área. Essa é a ideia principal do sistema de agrofloresta, que teve uma unidade demonstrativa implantada no campus Petrolina Zona Rural do IF Sertão-PE, através de um projeto de extensão.
O sistema agroflorestal é um modelo de cultivo milenar, que permite que o produtor tenha várias colheitas por ano de diversos produtos e ao mesmo tempo mantenha a sustentabilidade do ecossistema. "O sistema de fato visa imitar uma floresta, o solo é todo coberto por plantas espontâneas e matéria orgânica e as plantas vão crescendo juntas, uma ajudando a outra. Temos também uma menor incidência de pragas e doenças, porque tem vários inimigos naturais na área", explicou a orientadora do projeto, professora Luciana Oliveira.
Na área cultivada no campus Petrolina Zona Rural, instalada há cerca de um ano, as espécies nativas como angico, caatingueira, mulungu, caraibeira, tamboril, juazeiro, umbuzeiro, baraúna e macaúba estão em consórcio com pés de banana, mamão, pinha, abacaxi, cana-de-açúcar, abóbora, melancia e melão. É priorizada a utilização de sementes crioulas, sem o uso de agrotóxicos, apenas adubação com produtos da agricultura orgânica. "As plantas vivem em perfeita harmonia, ocupando diversos estratos tanto de forma horizontal, como também em relação ao espaço vertical, de forma que a energia solar seja melhor aproveitada pelas diferentes espécies no processo de fotossíntese", afirmou Luciana.
De acordo com o professor Amâncio Holanda, um dos colaboradores do trabalho ao lado do professor Almir Costa, uma das práticas da agrofloresta é o aproveitamento de todo material vegetal, a partir do trabalho de incorporação, que faz com que haja uma ciclagem de nutrientes e consequentemente melhora do solo. "Com o passar do tempo o solo vai estar bem melhor, diferentemente da agricultura convencional, que a cada safra, se você não estiver repondo nutrientes, o solo vai ficando cada vez mais pobre".
O professor Amâncio ainda destaca outras diferenças em relação à agricultura convencional. "Na verdade, nós estamos copiando o que acontece na natureza, na floresta. O que nós estamos fazendo é potencializar e ao mesmo tempo fazer uma inclusão do homem como ser naquele sistema. Na agricultura convencional o homem fica um pouco de fora do sistema, se não tiver toda a tecnologia não vai acontecer o esperado. Na natureza, não. Mesmo com a ausência do homem, os processos continuam, os animais pegando as sementes, disseminando, polinizando. O homem deve estar presente em harmonia".
O projeto conta ainda com o apoio de estudantes do curso de Agronomia. Para o bolsista Valmir Nogueira, é uma experiência totalmente nova. Juntamente a estudantes voluntários, Valmir realiza os tratos culturais necessários, como adubações e roçagem. "Podemos tirar a conclusão de que é possível produzir sem agredir a natureza, inclusive podendo ajudar a recuperar, tanto o solo, quanto a própria caatinga", disse. Ainda segundo Valmir, novas espécies deverão ser plantadas em breve na área, como produtos de horta, espécies forrageiras, além de pés de manga espada e rosa, tamarindo, macaxeira, milho e licuri.
Agricultura familiar – Além da implantação da área demonstrativa, o projeto tem como finalidade a capacitação dos alunos e também de agricultores familiares. "É um sistema ideal para agricultura familiar, por reunir vantagens tanto econômicas quanto ambientais. É algo relativamente novo na região, por isso vamos fazer um dia de campo, para compartilhar a experiência que a gente tem tido e mostrar que é possível", disse Luciana.
Atualmente, a maior parte dos alimentos consumidos no Brasil tem origem na agricultura familiar e o sistema agroflorestal abrange muito além do segmento da produção, como também da preservação do meio ambiente. "Ao mesmo tempo em que vão produzir alimentos para eles, para a família, para a região, tem uma coisa que é muito importante que é a preparação para a geração seguinte: eles estarão melhorando o solo, o microclima, vai ter um menor gasto de água, a biomassa será encontrada no próprio sistema. Essa é a ideia", disse o professor Amâncio.
A área de agrofloresta do campus Petrolina Zona Rural está aberta à visitação. Desde sua implantação, diversas turmas de estudantes já conheceram o sistema, incentivando práticas de ensino, pesquisa e extensão.
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