Viemos mostrar que nós entendemos e muitas outras mulheres entendem e fazem parte dessa história esportiva no nosso país e, principalmente, na região”. É assim que a jornalista Thamires Santos explica o surgimento do projeto “Elas e os Esportes”, idealizado e administrado por ela e pela também jornalista Maria Akemi, no Vale do São Francisco. Há quase dois meses no ar, o projeto informa e opina sobre acontecimentos em diversas modalidades do esporte não só na região, mas no Brasil e no mundo. As plataformas utilizadas são redes sociais como Instagram e Facebok, além de Podcasts produzidos regularmente.
“A ideia surgiu de uma aproximação com Thamires nas coberturas diárias na política local. Como temos passagem pelo ambiente esportivo, maturamos essa ideia de criarmos um espaço para fortalecer a presença feminina no jornalismo esportivo. Nossa intenção era marcar território e dizer "aqui tem mulher que conhece e gosta de esporte", tendo como pano de fundo essa questão de gênero e empoderamento feminino. Nós nos sentimos tão capacitadas quanto os homens jornalistas”, ressalta Maria Akemi.
Definido como “o esporte sob a ótica delas”, a iniciativa também tem despertado resultados interessantes, de mulheres que querem ler e ouvir mulheres abordando assuntos que socialmente são direcionados aos homens. O público que inicialmente era em sua maioria masculino, agora é bastante equilibrado e conta com 54% da audiência feminina.
Mas, se por um lado o projeto tem muitos motivos para comemorar, por outro as jornalistas percebem que o machismo continua presente no ambiente esportivo.
“A todo momento me sinto testada. Alguns ainda duvidam que mulheres realmente gostem, entendam de esportes. A hashtag “Deixa ela trabalhar” eu levo para a vida, pois já ouvi de técnico de futebol que eu não entendia, só porque o questionei a falta de mudanças no time. Mas, quando um colega fez a mesma pergunta, ele acabou respondendo sem reclamar. Essas coisas ainda vão ocorrer inúmeras vezes, mas recuar jamais”, destacou Thamires.
“Ainda sonho que um dia as mulheres jornalistas não falem mais sobre machismo no ambiente profissional, infelizmente ele é presente na nossa sociedade e já passei por algumas situações que me entristeceram. Estou nas coberturas esportivas desde 2011 e até 2018 eu nunca tinha passado por uma situação de assédio e machismo, mas parece que quando veio, veio de vez: fui questionada por minha capacidade, sofri cantadas no campo durante o jogo e os assediadores conseguiram meu contato pessoal para continuar o assédio. O machismo vem muitas vezes de forma velada: sempre desconfiam do nosso potencial, nos olham torto, desdenham, mas no geral aqui eu percebo os colegas mais receptivos e apoiadores da presença feminina”, complementou Akemi.
O “Elas e os Esportes” surge também como uma resposta aos veículos que ainda selecionam profissionais para atuar no esporte levando o gênero em consideração. “Eu já passei por isso: havia uma proposta para atuar nas coberturas e contratam um jornalista homem. Isso também nos incentivou a criar o Elas, para fortalecer a mulher jornalista esportiva”, relembrou Akemi.
Pioneiro na região, o projeto deve inspirar muitas jornalistas e meninas que sonham em atuar na área esportiva.
“Quando mostramos esse outro lado, nossos pontos de vista, temos observado muitas mulheres e homens embarcando no nosso projeto. Comentando e interagindo. O público feminino também cresceu. Interagimos com outras mulheres que, assim como nós, estão desenvolvendo projetos semelhantes na área esportiva”, comemora Thamires.
“Acredito que se você tem um sonho deve segui-lo. Jornalismo faz quem tem paixão, jornalismo esportivo mais ainda (e uma pitada de loucura também). É um meio que poucos valorizam, relegam a segundo plano. Contudo, se você ama, invista, estude, busque conhecer mais e mais. O que sempre me atraiu no esporte é o fato de ser como a vida: nem sempre ganhamos, às vezes levamos umas surras, caímos. O que importa é não desistir, uma hora seremos recompensados”, finaliza Akemi.
O “Elas e o Esporte” está disponível no Instagram como @elaseosesportes e no Facebook como elaseosesportes.
© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.