Pressionado por políticos americanos e ativistas ligados à causa LGBT e ao meio ambiente, o presidente Jair Bolsonaro cancelou nesta sexta (3) sua viagem a Nova York, onde seria homenageado no dia 14 de maio com o prêmio de Pessoa do Ano, em jantar promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
Em nota, o gabinete do porta-voz da Presidência da República admitiu que as manifestações públicas contrárias a Bolsonaro nas últimas semanas foram decisivas para que o presidente desistisse. "Em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York [Bill de Blasio] e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade."
Em abril, o prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, disse que Bolsonaro não era bem-vindo à cidade e chamou o presidente de racista, homofóbico e destrutivo. Em razão disso, prossegue a nota, "e consultados vários setores do governo, o presidente Bolsonaro decidiu pelo cancelamento da ida a essa cerimônia e da agenda prevista para Miami".
Desde que, no mês passado, o Museu de História Natural de Nova York se recusou a receber o evento, uma série de manifestações pressionavam os patrocinadores a não vincular seu dinheiro -nem suas marcas- ao jantar de gala que, além do presidente brasileiro, homenagearia o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.
O objetivo dos protestos era que o evento fosse cancelado. A câmara não respondeu se a celebração ainda acontecerá sem Bolsonaro. O jantar se tornou objeto de controvérsia e criou embaraços da entidade com empresas e a elite nova-iorquina.
Depois que o museu se recusou a sediar o evento, alegando não ter sido comunicado de que o homenageado seria Bolsonaro, o hotel New York Marriott Maquis aceitou receber o jantar e passou a ser alvo de manifestações de ativistas e políticos americanos.
O senador estadual democrata Brad Hoylman, representante da comunidade gay, enviou carta ao hotel pedindo que não recebesse o presidente. Segundo Hoyman, Bolsonaro é "homofóbico perigoso e violento, que não merece uma plataforma pública de reconhecimento em nossa cidade". O Marriott tem histórico de apoio à causa LGBT.
Depois que o martelo sobre o local do evento foi batido, a pressão começou a atingir o apoio financeiro ao evento –um grupo de doze ativistas fazia desde terça (30) manifestações diárias contra os patrocinadores, pedindo que o evento fosse cancelado.
A companhia aérea Delta, a consultoria Bain & Company e o jornal Financial Times, que patrocinavam a festa, retiraram o apoio no início da semana. Ao explicar a decisão, a Bain disse à CNN que "celebrar a diversidade é um princípio essencial" da empresa.
Incomodou particularmente integrantes do Planalto a repercussão negativa sobre a ajuda do Banco do Brasil e do consulado-geral do país em Nova York para financiar o evento, como revelou a Folha de S.Paulo nesta sexta.
O banco aceitou pagar US$ 12 mil (R$ 47,5 mil) para ter uma mesa com dez lugares no jantar de gala. Bolsonaro foi então aconselhado a não participar da homenagem, visto que o clima estava cada vez mais acirrado. Um das versões que auxiliares vão circular nos bastidores, numa tentativa de minimizar o desgaste da imagem do presidente, é que a viagem poderia ser considerada um combustível à disputa entre democratas e republicanos nas eleições de 2020. O Planalto nega, porém, que o cancelamento tenha relação com o envolvimento dos EUA na crise na Venezuela.
Depois de passar por Nova York, Bolsonaro iria na quarta (15) a Miami, na Flórida, estado crucial na disputa presidencial americana e um dos principais panos de fundo da atuação de Donald Trump diante da crise venezuelana.
Venezuelanos, cubanos e nicaraguenses conservadores que vivem na Flórida são contrários ao regime de Nicolás Maduro e apoiam a ofensiva da Casa Branca ao ditador. Bolsonaro iria justamente encontrar o senador Marco Rubio, um dos principais expoentes anti-Venezuela do Congresso americano.Aliados de Bolsonaro nos EUA foram pegos de surpresa e ficaram irritados com a desistência. Eles haviam organizado diversos compromissos para o presidente, inclusive reuniões com empresários e investidores.Entre os que permaneciam no hall de patrocinadores do evento estavam instituições financeiras como Merrill Lynch, Credit Suisse, Morgan Stanley, Citigroup, Itaú, Bradesco e HSBC.A homenagem Pessoa do Ano é concedida há 49 anos a dois líderes, um brasileiro e um americano, reconhecidos pela atuação em aproximar e melhorar as relações entre os dois países no ano anterior. Em 2018, foram laureados Sergio Moro, atual ministro da Justiça, e Michael Bloomberg, empresário e ex-prefeito de Nova York.
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