Bordados feitos em tecidos rústicos, que trazem em seus detalhes a afirmação de identidades, denúncias e registros da vida e do cotidiano de comunidades. Essa técnica chilena, conhecida como arpilleras, ou bordados de resistência esteve presente em oficinas realizadas com mulheres assalariadas rurais de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, que integraram a programação matinal do III Seminário o Trabalho no Vale do São Francisco (SETREBVALE), que aconteceu no auditório da Univasf, em Petrolina, durante os dias 25 e 26 de abril.
As oficinas ocorreram no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariadas Rurais de Petrolina e foram facilitadas pela psicóloga e doutoranda em Sociologia, pela Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, Cláudia Cerda. A arpillera consiste em uma técnica têxtil, com raízes em uma antiga tradição popular, que teve início com um grupo de bordadeiras de Isla Negra, no Chile.
Os bordados de resistência são produzidos em tecidos rústicos e toda a costura é feita à mão, utilizando linhas e agulhas. Claudia Cerda explicou que a técnica era uma forma de expressão das mulheres, para denunciar as injustiças enfrentadas durante a ditadura chilena.
As mulheres assalariadas rurais foram divididas em grupos e orientadas a desenvolverem desenhos, que representassem o dia-a-dia de trabalho na fruticultura irrigada da região, e as condições em que essas atividades são realizadas nos parreirais. O grupo de Tereza Maria da Cruz bordou as principais conquistas das mulheres, ocorridos durante as negociações coletivas, a exemplo do auxílio creche, proibição do trabalho nos parreirais, após a ocorrência de chuvas e transporte seguro e gratuito.
“Foi um momento muito importante, pois pudemos mostrar que somos mães, trabalhadoras e guerreiras, que estamos na luta pelos nossos direitos”, explicou Tereza. Maria Samara de Souza, dirigente do sindicato dos trabalhadores rurais de Juazeiro também participou das oficinas. Seu grupo problematizou o cotidiano das mulheres assalariadas rurais, a partir da dupla jornada de trabalho.
“Ficamos emocionadas com o resultado final, porque vimos que aquela arte trazia algo grandioso. Retratamos a nossa vida no campo, o nosso dia-a-dia. E como foi belo o resultado desse trabalho. Aprendemos muito e podemos ser propagadoras dessa arte para outras companheiras”, afirmou Samara. Os bordados de resistência, produzidos pelas trabalhadoras rurais foram apresentados ao final da mesa de debate “Trabalho e gênero”, do III SETRABVALE.
SEMINÁRIO: O III SETRABVALE debateu as novas perspectivas do trabalho na região, com a reforma trabalhista, a partir das vivências dos/as trabalhadores/as rurais e de pesquisas desenvolvidas no Vale do São Francisco, voltadas para o assalariamento rural. O evento contou com a presença de pesquisadores, estudantes, dirigentes sindicais e trabalhadores/as rurais.
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