A Revista Globo Rural, uma de maiores credibilidades da America Latina, destacou este mês de março 2019 as histórias das curandeiras do sertão: mulheres que preservam as práticas de orações, cantos, raízes e garrafadas. O titulo da reportagem é: Os saberes das mulheres da Caatinga.
O jornalista e editor da Revista Bruno Brecher e o fotografo José Medeiros percorreram trechos da terra de Padre Cícero à terra de Luiz Gonzaga por uma estrada que atravessa a Chapada do Araripe e divide o Ceará de Pernambuco. Uma das histórias é destacadas é de Maria Nazaré de Jesus. Ela conta que já “pegou” 12 meninos. O primeiro, homem feito, já tem de 18 a 20 anos.
"Minha mãe era parteira e eu via ela conversando. Ela dizia tudo como era, como se cortava o umbigo, como ajeitava a barriga da mulher. Ela fez muitos partos, ia pra todo canto, o povo vinha buscar de cavalo, de bicicleta, de tudo. Ela fez os partos das minhas filhas, de cinco delas".
Bruno mosta que uma espada branca de madeira é o principal instrumento da rezadeira no congá. Ela coloca a espada de São Jorge e Santa Bárbara na testa da pessoa. "Sempre eu tive visão das coisas, só que eu não entendia o porquê dessa sabedoria que Deus estava me dando. Eu peço ajuda aos guias da mata".
Às terças e quartas-feiras, é dia de reza na casa de Maria Anunciação Barros, a Dona Neta, de 61 anos, na rua Eufrazio de Alencar, no centro de Exu. No congá (altar) de Neta há imagens de São Jerônimo, do Doutor Tarcio, um médico da cidade que morreu nos anos 70, e da Santa Joana d’Arc, santa padroeira da França e uma das chefes militares da Guerra dos Cem Anos.
Outra parte da reportagem revela que no Sítio São Raimundo, Maria do Socorro Silva Moreira, devota de São João Batista, tinha acabado de voltar do mato com as mãos vazias. "Eiiita, a seca matou tudo. Com sete anos de seca, não tem raiz que não morra, até a batata-de-teiú".
A caminho da casa de Dona Socorro, na zona rural de Exu, a gente passa pela histórica igreja de São João Batista do Araripe, que completou 150 anos em junho do ano passado. A igreja foi construída pelo Barão de Exu como pagamento de uma promessa ao santo. Em 1863, uma epidemia de cólera atingiu o Crato, cidade vizinha, e Gualter Martiniano de Alencar Araripe, o barão, proprietário das fazendas Araripe e Caiçara, fez uma promessa a São João Batista: se a doença poupasse Exu, ele iria à França buscar uma imagem do santo e construiria uma igreja para abrigá-la. A bisavó do Rei do Baião se abrigou na Fazenda Caiçara durante a peste de cólera.
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