Venezuela - Paraíso, inferno e juízo final (2ª Parte)

09 de Mar / 2019 às 13h00 | Espaço do Leitor

Por coincidência ou não, no dia 02/02/1999, eu estava em Caracas e tive a oportunidade de assistir à posse de Hugo Rafael Chávez Frias, sendo este, o primeiro de seus quatro mandatos, como presidente da Venezuela. Foi algo indescritível e emocionante. Até os dias atuais nunca vi uma manifestação pública tão gigantesca e alegre. Para se ter uma ideia do clima dessa festa, multiplique por 10, a empolgação que o povo brasileiro teve com a conquista do tricampeonato mundial de futebol do Brasil, no México, em 1970.    

Neste dia da posse (toma de posesión), Hugo Chávez fez duas promessas o que levou todo o país a loucura: prometeu acabar com a pobreza e com a corrupção pandêmica de seu país. O discurso era tão contundente que me levou a comentar com um venezuelano que estava ao meu lado. Disse-lhe: queria que o Brasil tivesse um presidente deste jeito. O desconhecido se virou para mim e como não quisesse perder nenhum momento do discurso do “Comandante Chávez”, respondeu rapidamente: - Dios quiera que sí (Deus queira que sim).  

Não obstante, nem todos os venezuelanos que votaram Hugo Chávez acreditavam em seus discursos, sempre muito bem elaborados, longos (muitos dos quais chegavam a seis horas) e emocionantes, iguais aos de Fidel Castro, ex-presidente de Cuba. Mas, neste momento, as dúvidas ou desconfianças de poucos davam lugar a esperança, por meio desse suposto iluminado, que dizia ser a reencarnação de Simón Bolívar.

Na verdade, Hugo Rafael Chávez Frias além de ser muito inteligente, era prepotente e manipulador. Quando o povo veio perceber estes atributos peculiares dos bons ditadores, era tarde demais. Ele já tinha conseguido o controle de tudo e de todos. 

Hugo Chávez chegou ao poder através de um projeto antigo, colocado em ação com muita paciência, astúcia e capacidade. Vejamos:

Apesar de Chávez ser de centro-esquerda ou esquerda, sempre se passou como um democrata centrado, aberto e adepto as ideias de todos, independentemente da posição política de cada um.

Chávez conhecia como poucos a história do herói, visionário, revolucionário e militar venezuelano, Simón José Antônio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios Ponte-Andrade y Blanco, conhecido simplesmente como Simón Bolívar - o libertador das Américas. Assim sendo, Chávez usou a biografia deste homem (que ainda é a personalidade mais querida em todo pais), como associação de imagem. 

Chávez sabia que o povo venezuelano (em sua grande maioria) era carente, acomodado, indolente e sem unidade. Por isso, os seus conterrâneos não iriam se contrapor a nada que viesse do poder. 

Em 04/04/1992, Chávez (na condição de tenente-coronel) gerenciou a distância, um golpe do estado contra o presidente Carlos André Pérez. Não conseguiu e foi preso. Porém, mesmo estando numa cárcere, em novembro deste mesmo ano, planejou e executou uma segunda tentativa de golpe. Fracassou mais uma vez. 

Em 1994, Chávez recebeu o indulto do presidente Rafael Caldera, um homem de bem, transparente e honesto, o qual eu tive o prazer de vê-lo em público, por uma vez. 

Chávez se candidatou à eleição presidencial de 1998, com o apoio do MVR (Movimento Quinta República) e foi eleito o 53º presidente de Venezuela, com base no ideal da “Revolução Bolivariana”. 

Com a posse de Chávez, tudo foi mudando e piorando rapidamente na Venezuela. O que era paraíso, começou a se transformar num inferno, com consequências funestas para o povo. 

Chávez se aproximou de Cuba e em troca dos milhões de barris de petróleo que mandava para o país de Fidel Castro recebeu 3 mil profissionais para cuidar de sua segurança pessoal (guardaespaldas). Essas pessoas, escolhidas pessoalmente pelo líder cubano, receberam identidades e passaportes venezuelanos. Recebiam e até a data presente ainda recebem, altos salários em dólares americanos, diferentemente dos venezuelanos, que vivem com minguados bolívares, desvalorizados a cada minuto, visto que a inflação do ano de 2018 ficou em 1.350.000%. 

Mesmo sabendo que Cuba já não dispunha de médicos da saúde da família para exportação, Chávez acolheu 7 mil estudantes de medicina que ainda estavam cursando os últimos períodos. Como se médicos efetivamente fossem, esses estudantes atuaram num programa conhecido como “barrio adentro” e, sem conhecerem a farmacologia da Venezuela passavam um único tipo de remédio para curar todas as doenças. 

Redução drástica (por incompetência do governo) na venda de petróleo e gás, extraídos no município de Maturim (estado Monagas).  

Redução severa (por incompetência do governo) na venda de ferro e energia elétrica, extraídos e produzidos na cidade de Puerto Ordaz (estado Bolívar). 

Proibição do câmbio de moedas em todo o país. As instituições bancárias da Venezuela tiveram que enviar para o palácio do governo em Caracas (Miraflores) todo o efetivo de dólares americanos que possuíam, recebendo em troca, o já comentado e desvalorizado, bolívar. 

Criação dos programas de tapeação social (bolsa família, escola, filho, gás, transporte, etc.), fazendo com que grande parte da população deixasse de produzir. Programas estes, que elevaram consideravelmente o custo social do país, ao contrário do preço do petróleo (maior riqueza da Venezuela), que vivia em constante decadência.

Doação de 2 milhões de armas para os membros de seu partido, cujo objetivo inicial era defenderem a “Revolução Bolivariana”, do imperialismo americano. Atualmente este grupo é denominado de “colectivos” e vêm matando o seu próprio povo, em apoio e obediência a ditadura de Nicolás Maduro. 

Com estes e outros acontecimentos, o inferno estava criado na Venezuela, e o juízo final, já era pressentido.

Gilberto Maciel Santos - Escritor Juazeirense. 

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