Acompanhando a situação atual da Venezuela (que já era uma tragédia anunciada), percebo que tem muita gente opinando, sem conhecer esse país nem as causas dos problemas. Assim sendo e conhecendo um pou-co dessa realidade, decidi dar um pitaco a esse respeito.
Conheço a Venezuela desde 1992, época do presidente Carlos Andrés Pérez. Viajei inúmeras vezes de carro próprio para esse país, saindo de Roraima com destino a Ciudad Guayana, Puerto La Cruz, Ilha de Margari-ta, Caracas e Valência. Nessa ocasião, um litro de gasolina pura custava 0,08 cruzeiros, fator esse que estimulava muita gente a viajar para conhe-cer esse mundo encantado. Outros motivos que estimulavam os brasilei-ros do norte a viajarem para a Venezuela, eram os preços baixos dos bens de consumo, o câmbio da moeda cruzeiro/bolívar a nosso favor e os banhos de mar. Por isso, a Venezuela era invadida mensalmente por 5 mil amazonenses e roraimenses.
Alguns brasileiros que moravam no centro-sul deste país, viajavam a Ve-nezuela, com o objetivo de jogar em cassinos e comprar coisas baratas na Ilha de Margarita. Esses brasileiros viajavam através da Varig, saindo de São Paulo, com destino ao Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Maiquetia (Caracas). Daí seguiam para a Ilha de Margarita em companhi-as venezuelanas (viasa ou aeropostal), num voo de 40 minutos sobre o mar azul-degradê do Caribe.
Para se ter uma ideia do quanto as coisas eram baratas na Ilha de Marga-rita, em 1992, um litro de whisky de 21 anos, legítimo, custava até 80 cru-zeiros. Uma diária para um casal, em hotel 4 estrelas, custava até 150. Era uma maravilha.
De tanto viajar e gostar da Venezuela, morei nesse país, entre 1996 e 1997, me estabelecendo em Porlamar (Ilha de Margarita), estado de Nue-va Esparta. Lá trabalhei como guia turístico para brasileiros, tendo inclusi-ve, a oportunidade de realizar um trabalho para Francisco José, da rede globo nordeste de televisão.
Nos anos 90, a Venezuela era a uma espécie de New York da América do Sul. Tinha tudo em excelência e qualidade: parques, restaurantes, mu-seus, entretenimento, shoppings centers (até os dias atuais eles insistem em chamá-los de centro comercial), belíssimos edifícios, majestosas resi-dências, roupas de grife, veículos americanos, etc.
Ainda nos anos 90, o povo venezuelano, vivia fazendo turismo (interno e externo), comendo arepas (um tipo de pastel feito com farinha de milho pré-cozida), bebendo muita polar (cerveja conhecida por polarsita), sabo-reando cocada (água de coco, misturada com nove ingredientes, inclusi-ve, o coco ralado e canela), bailando salsa e merengue, escutando Oscar D`León e Juan Gabriel, apostando em tudo (principalmente em corridas de cavalos, corridas de cachorros e no jogo do bicho - conhecido como ani-malitos) e se vangloriando da beleza das mulheres de seu país, as quais foram e ainda são muito bem representadas por suas misses universo. Viviam num conto de fadas.
A Venezuela era e continua sendo um país rico e bonito por natureza. Além de possuir quase todos os minerais do mundo em seu subsolo, pos-sui tudo em grande quantidade e graça: fauna, flora, rios, mar, praias, montanhas, parques ecológicos, etc. Isso sem contar, com uma excelente localização geográfica e com um clima diversificado, inclusive, com a pre-sença constante de neve, na cidade estudantil de Mérida.
Quando eu morei na Venezuela, escutei repetidas vezes uma historieta que é contada pelos mais idosos. Dizem que um dia um grupo de pessoas da América Latina (com a ausência apenas do representante do Brasil) solicitaram uma conferência com Deus para saber o porquê Dele ter feito da Venezuela, um paraíso na terra, enquanto os demais países não tive-ram o mesmo privilegio ou a mesma sorte?
Deus, em sua infinita sabedoria e justiça, olhou para cada pessoa do gru-po e respondeu: - De fato a Venezuela é um paraíso. Mas vocês, já per-ceberam o tipo de gente que eu coloquei pra nascer ou viver lá? Todos se entreolharam, entenderam a questão, agradeceram pela audiência e volta-ram para os seus países, satisfeitos com a resposta obtida.
De fato, até o final dos anos 90, a Venezuela era um paraíso, contudo, com o passar dos tempos, se transformou num inferno, lamentavelmente.
Gilberto Maciel Santos - Escritor Juazeirense.
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