Falta de uma decisão federal ou estadual sobre uso de usina hidrelétrica para conter onda de rejeitos leva angústia ao entorno do lago do Rio São Francisco. Em compasso de espera e tensão nas alturas. Próximo a completar dias após o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não há decisão federal ou estadual sobre o uso da usina hidrelétrica do Retiro Baixo, no Rio Paraopeba, entre Pompéu e Curvelo, para conter a lama de rejeito de minério vazada do empreendimento da Vale.
Enquanto não há determinação oficial, a preocupação toma conta dos pescadores artesanais e piscicultores do entorno do lago de Três Marias, na Região Central, ponto de encontro entre o afluente Paraopeba e o São Francisco. Reunido, ontem, em Felixlândia com autoridades, técnicos, moradores, produtores e ambientalistas, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, alagoano, disse haver um temor sobre as condições em que o Paraopeba chegará ao reservatório de Três Marias, após o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
“As pessoas podem ficar prejudicadas, principalmente quem vive da pesca. Só no município de Morada Nova tem 1 mil famílias, então, o problema pode ser muito grande. Este aqui é o primeiro cenário do Paraopeba chegando ao São Francisco”, disse Miranda. Se continuar chovendo na região do Alto Paraopeba, onde fica Brumadinho, é possível que o material carreado chegue a Três Marias por volta do dia 15.
“Não há um cálculo muito exato sobre, mas a preocupação das pessoas com a saúde e a vida é alta”, disse Miranda. Uma das possibilidades de barrar a contaminação pode estar na usina hidrelétrica de Retiro Baixo, administrada pela Retiro Baixo Energética, administrada pelo consórcio Furnas, Cemig, e Orteng, localizada entre os municípios de Pompéu e Curvelo.
Para o presidente do comitê, é fundamental que o governo tome todas as providências, inclusive com adaptação de barreiras filtrantes ao longo do Paraopeba, para evitar que os rejeitos vazados da barragem da mina do Córrego do Feijão atinjam o Velho Chico e, na sequência, o Oceano Atlântico. “Toda a Bacia do São Francisco, de Minas ao Nordeste, entrou em estado alerta, afinal, ninguém sabe em que condições a água chegará às cidades ribeirinhas”, afirmou Miranda, que já visitou a área afetada em companhia de integrantes dos fóruns nacional e estadual de comitê de bacias hidrográficas.
Reiterando a importância de barreiras flutuantes ao longo do curso d’água, Miranda conclamou o governo federal e estadual no sentido de fazer o possível para impedir a contaminação dos recursos naturais com metais pesados (mercúrio, chumbo, cádmio e outros), pois isso não só mata os peixes como expõe a vida humana ao perigo onde há captação no rio. “É importante pedir ajuda à Petrobras e às transportadoras de combustível para que coloquem à disposição equipamentos específicos para conter os resíduos”, disse Miranda, acrescentando que órgãos como a Vigilância Sanitária devem estar a postos tendo em vista o risco de contaminação no consumo de peixes.
MOBILIZAÇÃO – Sempre muito preocupado com o quadro resultante da tragédia em Brumadinho, provocada pelo rompimento da barragem da Vale, Anivaldo Miranda, reforça que é importante a mobilização em todos os setores. “As informações devem ser repassadas diariamente aos moradores do entorno do Lago de Três Marias, e outras regiões, para garantir o clima de tranquilidade. As autoridades, por sua vez, devem tomar as medidas necessárias à segurança da população. “Pode ser que não haja contaminação da água, mas ela também pode chegar a Três Marias fora dos padrões toleráveis. Houve este grande golpe no meio ambiente e, agora, é preciso estar preparado para tudo”, destacou.
“Estamos recebendo todas as opiniões dos moradores e acompanhando de perto toda a situação. O rompimento da barragem em Brumadinho é a “gota que derramou no copo, não podemos suportar mais”, conclui Miranda, que pede às autoridades federais que não deixem ocorrer à Bacia do São Francisco o mesmo visto na Bacia do Rio Doce, devastado após o rompimento da Barragem do Fundão, em 5 de novembro de 2015.
RESPOSTA – Em nota, a direção da Retiro Baixo Energética informa que a Usina de Retiro Baixo segue com sua operação normal, de acordo com a regra operativa e em alinhamento com os demais órgãos reguladores. Caso haja necessidade de paralisação da geração, os níveis serão controlados pelo vertedouro, conforme condições de segurança do empreendimento. A nota diz ainda que “os técnicos da empresa estão monitorando o deslocamento e a densidade dos resíduos e calculando os diversos cenários possíveis da chegada desse material à barragem da usina, a fim de garantir a segurança das pessoas, do meio ambiente e dos equipamentos. Não há risco estrutural para a barragem”.
“Um rio completamente morto”. Essa é a constatação sobre a condição do Rio Paraopeba (foto) por integrantes de uma expedição da Fundação SOS Mata Atlântica, que percorre o manancial, após a tragédia da barragem de rejeitos de minério b1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, ocorrida em 25 de janeiro. A contaminação do rio por metais pesados também foi confirmada por análises feitas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).
“A água (do Paraopeba) tem variado entre péssimo – ou seja, o rio completamente morto – e ruim, também completamente morto do trecho próximo de onde ocorreu o desastre até Pará de Minas, onde foi feito uma barreira de contenção, tentando conter os rejeitos, mas que ainda não deu resultado”, afirmou a especialista em recursos hídricos da entidade, Malu Ribeiro, que coordena a Expedição Paraopeba.
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