Declarações recentes do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, têm causado polêmica. Entre outros assuntos, ele disse que a universidade não é para todos. O ministro da Educação defendeu incluir a disciplina educação moral e cívica no currículo do ensino fundamental para os estudantes aprenderem o que é ser brasileiro e quais são os nossos heróis. Ele falou para a revista ‘Veja’. A entrevista saiu na edição desta semana.
Vélez Rodríguez disse que a volta de educação moral e cívica nas escolas é uma forma de ensinar o adolescente que viaja que existem contextos sociais diferentes e que as leis dos outros países devem ser respeitadas. Afirmou que o brasileiro viajando é um canibal: “Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola”, disse o ministro.
Na noite da segunda-feira (4), o ministro voltou a defender o ensino de moral e cívica em um vídeo na página do MEC.
“Eu vou dar muita ênfase a isso: a retomada desse processo de ensino de valores fundamentais, fundantes da nossa vida cidadã, tanto no ensino infantil como no ensino fundamental, ao longo de todo o ensino fundamental e por que não, continuando no nível universitário”?
O senador Major Olímpio, do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, apoia a proposta do ministro.
“Isso vai valorizar, vai ampliar a formação e a visão do cidadão brasileiro a partir da escola. Coisas mínimas que hoje se observa que as pessoas não sabem mais cantar o Hino Nacional, não conhecem o símbolo pátrios, então, isso é importante, não conhecem minimamente a estrutura de funcionamento do estado brasileiro”, disse.
Ainda na entrevista à “Veja”, Ricardo Vélez Rodríguez criticou a atriz e cineasta Carla Camuratti porque, segundo ele, colocou Dom Joãozinho - referindo ao príncipe regente Dom João VI, que chegou ao Brasil com a Família Real em 1808 - como um reles comedor de frango, sem nenhuma serventia,
O ministro se referia ao filme “Carlota Joaquina”, que, na verdade, não é um documentário, mas uma paródia de um momento histórico. Carla Camuratti preferiu não comentar a crítica do ministro.
Na entrevista ele também repetiu que a universidade não é para todos, que ela representa uma elite intelectual, para a qual nem todo mundo está preparado ou para a qual nem todo mundo tem disposição ou capacidade.
Velez Rodríguez elogiou o programa Escola sem Partido e fez críticas ao que chama de ideologização precoce de crianças na escola. Ele afirmou que a escola não serve para fazer política, que “a ideologização nas escolas é um abuso, um atentado ao pátrio poder e uma invasão da militância em um aspecto que não lhe compete”. E ameaçou: “Quem praticar isso ostensivamente vai responder à legislação que existe neste país”.
Sobre a liberdade de ensino, disse que “liberdade não é fazer o que você deseja. Liberdade é agir, fazer escolhas dentro dos limites da lei e da moralidade. Fazer o que dá vontade não é ser livre. Isso é libertinagem. No Brasil, por força de ciclos autoritários, temos uma visão enviesada da liberdade. Liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda. Não! Isso é desrespeito à autoridade, vai para o xilindró”.
A mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, afirmou que o filho nunca disse isso e esclareceu que a frase é de autoria dos humoristas do Casseta e Planeta. Em uma carta aberta, Lucinha cobrou uma retratação. Nesta terça-feira (5) Vélez Rodríguez ligou para ela para pedir desculpas.
“Eu achei que ele, além de ser mal informado, foi leviano de dar uma declaração dessas. ‘Como é que o senhor pôs na boca do meu filho’. Ele disse: ‘Ah, senhora, mil perdões. Eu não sei como eu vou me desculpar’. Eu falei: ‘Quero que o senhor se desculpe publicamente’”.
No fim da tarde, o ministro da Educação se desculpou numa rede social. Disse que a conversa foi tocante e que combinou uma visita a ela quando for ao Rio. E finalizou: “O amor do coração de uma mãe por seu filho é algo valoroso”.
A presidente do movimento Todos pela Educação, Priscila Fonseca da Cruz, também criticou declarações do ministro e disse que o país precisa identificar e enfrentar os problemas reais da educação.
“O problema central da educação brasileira é que a gente não tem conseguido garantir aprendizagem dos nossos alunos, esse é o principal desafio. E como que a gente resolve esse desafio? Com formação de professores, escolas bem geridas, com tempo integral, com material didático de qualidade, com uma boa base nacional curricular. É assim que se resolve”, disse.
As declarações do ministro da Educação provocaram reações no Congresso. Na Câmara e no Senado já estão prontos pedidos para que Ricardo Vélez Rodríguez explique as declarações consideradas desrespeitosas, preconceituosas e que atacam direitos garantidos na Constituição.
No Senado, o líder da Rede, Randolfe Rodrigues, contestou o ministro e disse que a educação é direito de todos.
“Não se pode, a despeito de querer banir uma pretensa ideologização, tentar impor uma outra ideologia nas escolas. Na verdade, o que ele argumenta fere um princípio constitucional, que é o princípio da liberdade de cátedra, e do pluralismo de ideias pelo qual está assentada a nossa educação. Está na nossa Constituição. Educação é dever de todos. É direito de todos e é dever do estado. Ele, ao se referir a universidade só para alguns, desconhece um princípio constitucional elementar”.
O deputado Alessandro Molon, do PSB, quer que o ministro vá ao plenário da Câmara dar explicações.
“Ele atacou de forma inaceitável a honra dos brasileiros chamando a todos de ladrões. E nós não aceitamos isso. Ele tem que vir à Câmara se explicar e pedir desculpas aqui ao povo brasileiro”.
A assessoria de Vélez Rodríguez divulgou uma nota em que declara que, ao falar sobre as universidades, o ministro queria dar ênfase à valorização do ensino básico e técnico e que, para ele, o ensino superior está aberto a todos os estudantes que quiserem ingressar por livre escolha, e não por imposição do mercado.
Sobre a declaração de que o brasileiro viajando é um canibal, a assessoria do ministro afirmou que ele estava se referindo a casos específicos de determinados jovens e não quis generalizar.
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