Ele estava muito angustiado, ansioso e solitário. Sua aparência denunciava muita dor, soterrada nos solos de uma vida. O tubo de oxigenio penetrava fundo em sua garganta. Suas fácies demonstravam um profundo sofrimento.
Era terrível olhar para um homem que sempre fora um gigante, para quem o cansaço nunca existia, estando ele ali em tal estado.
Estava envolto em um sofrimento numa U.T.I. de um Hospital, a mercê da morte, que parecia ser inevitável.
Chamei-o pelo nome:
- Cesar Augusto, meu Irmão, reaja! Exclamei.
Na sua dor ele pareceu tentar abrir os olhos, mas, suas pálpebras, estavam tão pesadas, que ele não pode fazê-lo. O fantasma da morte rondava aquele corpo inerte do meu melhor amigo e irmão.
Tudo começou quando eu ainda era Venerável Mestre da A.R.L.S. Segredo, Força, União, do oriente de Juazeiro-BA. Numa certa tarde de sábado, a Loja estava toda engalanada para receber três novos candidatos: Cesar Augusto Gomes dos Santos, Eduardo e Pacheco.
Fui justamente a partir daquele dia que a nossa amizade se solidificou. Passamos a ter muitas ideias em comum, Logo, logo ele me convidou para conhecer a sua fazenda. Longe o suficiente para “só ir lá quem tem negócios”, com se diz no vulgo.
Mas, não só eu, porém inúmeros outros amigos seus, debandavam desde Juazeiro, numa estrada carroçável, mal conservada, cheia de buracos, por cima de paus e pedras, tudo isso porque o convite foi feito por Cesar.
Ele tinha uma incrível capacidade de agregar as pessoas, de uní-las, de aproximar os diferentes em torno de si, e de acolher a todos com um sorriso largo.
Nas festas que ele nos propiciava, nos finais de semana regados a carne de bode, cerveja e violão ou sanfona, sempre dizia:
- No meu aniversário quem for meu amigo irá me procurar lá minha fazenda. Aí, então, a “Fazenda Barão” tornava-se pequena. Porque durante três dias – era na sexta-feira, no sábado e no domingo – a festa era grande por demais.
Ao fita-lo, na sua angústia, o meu coração se comoveu. Em minha mente desenrolou todo um filme do nosso tempo de amizade. Não contive as lágrimas, deixei-as que rolassem.
As dores que vivemos poderão nos destruir ou nos construir. Resolvi deixa-las me construir, procurando um endereço dentro de mim mesmo.
A partir daquele instante tinha a certeza de que o meu amigo estava de partida. Partiria em busca das suas origens, de onde ele saiu. Nós, os homens, temos que ter a certeza de que não somos um corpo que tem uma alma, mas, uma alma que tem um corpo. Portanto, tudo passa sobre a terra! E no planeta azul, esse planeta de expiação, nada mais somos do que caminheiros, em busca de uma pátria que está no além.
Silenciei-me numa prece rogatória. Entreguei-o ao Supremo Arquiteto do Universo, e saí, deixando-o partir para a eternidade.
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