“O sofrimento é em dose homeopática.” A frase do enfermeiro Jairo Oliveira Corrêa, do Posto de Saúde de Parque da Cachoeira, uma das comunidades mais atingidas pela lama do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, obviamente não se refere ao volume, mas ao ritmo de conta-gotas com que o sentimento se espalha entre moradores e envolvidos no socorro às vítimas da catástrofe.
Uma dor que retrata bem como foi a primeira semana na cidade castigada por aquela que já é a pior tragédia humana da história da mineração no país, que chegou ontem a 110 mortes confirmadas, e tende a ultrapassar as três centenas.
Já as perdas, de vidas e materiais, e a contaminação vieram em escala industrial. A mancha de lama de restos de mineração lançados no meio ambiente não para de avançar pelo Rio Paraopeba. Uma alta concentração de metais pesados foi confirmada em boletim divulgado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), após monitoramento da qualidade dos recursos do rio, produzido com a Agência Nacional de Águas (ANA), Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Copasa desde o desastre, ocorrido na sexta-feira passada.
As maiores concentrações verificadas no Paraopeba após a contaminação com a lama de rejeitos de minério foram de chumbo total e mercúrio total, de 21 vezes acima do limite permitido pelas normas ambientais. Também foi constatada a presença no rio de outros metais, como níquel, cádmio e zinco, acima dos valores considerados toleráveis. Já o Corpo de Bombeiros garante que, ao contrário do que sustentam mensagens que circulam em grupos de mensagens via celular, não há contaminação da água por césio, elemento radioativo.
Diante do estudo feito pelo Igam, ANA e Copasa, o governo do estado alertou que a água do manancial “apresenta riscos à saúde humana e animal” e não deve ser consumida em estado bruto. A Defesa Civil estadual atestou que nenhuma cidade do estado está sujeita a cortes de abastecimento, e que municípios que eventualmente façam captação no Paraopeba recorrerão a fontes alternativas enquanto os parâmetros estiverem alterados.
Com uma área de quase 13 mil quilômetros quadrados, o Paraopeba passa por 48 cidades, sendo 35 na sede da bacia, atingindo as áreas Central e Oeste de Minas. É responsável por abastecer 2,3 milhões de pessoas. Diante das recomendações, vários municípios já se mobilizam em buscas de planos alternativos para que o abastecimento de água não seja interrompido. As iniciativas vão de criação de grandes reservatórios provisórios à utilização dos poços artesianos e outros mananciais para evitar eventuais problemas de falta de água no futuro.
Em nota, a Copasa assegurou que o fornecimento para a Região Metropolitana de Belo Horizonte não será modificado. A empresa conta para isso com as represas do Rio Manso, Serra Azul, Vargem das Flores e com a água do Rio das Velhas, feita em Nova Lima, sem barragem, em sistema conhecido como captação a fio d’água.
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