Me deixei refletir, nos instantes em que sobrevoava a imensidão amazônica, sobre o meu papel, como nordestino, a cuidar do patrimônio natural do Brasil, como ministro do Meio Ambiente. Ambiente este tão rico em vida e biodiversidade. Tentei buscar a origem da emoção que sintia naquilo que estava fazendo.
Acredito que esta emoção aflora por ter vindo de um lugar onde a floresta é a caatinga do sertão semiárido, onde as diminutas copas da maioria das árvores se esparramam como quem quer se esconder do sol. Tortuosas quantos os caminhos que historicamente se apresentaram como possibilidades para o povo do lugar.
Quando defendi, com grande envolvimento pessoal, os rios e as águas, se explica certamente por eu ter vindo de um lugar onde a água é um bem raro, onde as chuvas são aguardadas, contadas aos meses e não nas horas e dias. Lugares como Curral Velho e Alto das Queimadas, endereço rural onde nasceram meus pais, onde a água não vinha, tinha que ir buscar.
Defendo as energias renováveis, talvez por vindo de onde as energias afloram e se renovam na teimosia humana dos nordestinos. Venho de onde falta luz na estrada, especialmente para os mais jovens.
Me emociono com os cantos das aves, com os seus múltiplos sons. O grunhir dos bichos. Dou todo o tempo necessário, pois no meu tempo eram rarefeitos os cantos e grunhidos, sufocados pelo agonizante silêncio da seca e da desertificação que se esparrama no tempo e espaço.
Me dediquei a combater a captura e o contrabando de animais, certamente motivado por ter assistido a sina dos nossos mais belos, a exemplo da nossa ararinha azul, que desapareceu das nossas caatingas, vítima da brutalidade do comércio que aprisiona nossa fauna.
Apoiei as iniciativas de sucesso em sustentabilidade, certamente por ter sido brotado onde o sucesso é sobreviver. Do canto do mundo onde acordar e dormir é para celebrar.
Trabalhei bastante para incentivar e proporcionar o conhecimento, o acesso a informação, pois vim de onde as condições oferecidas eram e são tão limitadas. Onde os livros eram e são tão distantes, onde o mundo digital é ainda tão escasso e seletivo.
Protejo o nosso valioso patrimônio genético, por ter vindo das terras onde a genética é o nosso maior patrimônio. Onde a história e os causos têm os mesmos valores. Onde a tradição traduz o nosso jeito de ser. Onde a árvore genealógica oxigena as nossas vidas, nos inspiram.
Eu sou daí. Eu sou assim. Nordestino da seca e do cinza, nordestinado a cuidar das Aguas e do verde. A cuidar da vida.
Boas festas e feliz ano novo a todos.
Espaço aéreo amazônico, em 2018.
Edson Duarte – Ministro do Meio Ambiente.
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