O Festival Edésio Santos da Canção está em sua 21° edição, mas nem todo juazeirense conhece a história do homem que dá nome ao evento: Edésio Raimundo dos Santos. Negro, ajudante de pedreiro, engraxate, relojoeiro, funcionário público, cantor e compositor. Amigo e companheiro de João Gilberto, que mesmo não tendo sido reconhecido nacional e internacionalmente, tem grande influência musical na cidade de Juazeiro.
Edésio Santos nasceu na cidade de Afrânio, Pernambuco, em 1931, mas foi em Juazeiro que viveu durante toda sua vida. Amava a música. Participou de grupos musicais como o Sambossa na década de 1960, acompanhou artistas consagrados que se apresentaram em Juazeiro e região e comandou o primeiro trio elétrico no carnaval da cidade, apenas com músicas instrumentais, sem cantores. A amizade com João Gilberto fez muita gente crer que Edésio teria ‘ensinado’ João a tocar violão no ritmo do que depois se consolidou como bossa nova.
“Conheci Edésio nos anos de 1960. Ele era relojoeiro e consertou um relógio meu. Sempre falava que nunca ensinou nada a João. Contava que se reunia no Cais com Pedrito, Seu Galo e João Gilberto já chegava sempre com uma coisa nova. 'Quem ensinou alguma coisa a João Gilberto?', era o que dizia Edésio. Tocaram juntos, foram amigos. Um negro e pobre, o outro branco e rico. A música os uniu”, concluiu o amigo e músico em comum Maurício Dias, atual superintendente de Cultura e Turismo.
O médico e cantor Rogério Leal conheceu Edésio ainda criança e conta que ele tinha aparência e um jeito que parecia rude, mas que no fundo era um mestre da delicadeza, com um caminhar lento e de fala mansa. “Conheci Edésio através de meu pai, Toinho, dentro de minha casa. Eles tocaram juntos no Sambossa e eram muito amigos. Edésio apreciava o ritmo mais lento. É só reparar nas melodias: são doces, suaves. Nesses tempos de gritaria, de muito ruído, ele ensinaria muito”.
Rogério enfatiza a importância de o festival homenagear o saudoso músico juazeirense. “Celebra uma pessoa que não teve fama nacional, mas teve profundo respeito pela arte e pela cidade em que morou por muitos anos. Homenageando Edésio Santos, se homenageia todos os músicos da cidade, que resistem às dificuldades e exercem seu ofício com dignidade e amor”, ressalta.
A jornalista Sibelle Fonseca também teve uma relação mais próxima com Edésio, numa paternal convivência. “No final da década de 1980, durante o Festival 'O Som das Margens do Sol - Troféu João Gilberto', Edésio procurava uma intérprete para a canção que iria inscrever. Arlinda Maia e Esmelinda Pergentino, que trabalhavam na Secretaria de Cultura junto comigo, sugeriram meu nome. Nós não nos conhecíamos e ele ficou desconfiado. Mesmo assim me entregou a fita cassete, que eu ouvi e levei dois dias para aprender. A nossa primeira parceria resultou no segundo lugar no Festival e eu como melhor intérprete. A partir daí não nos deixamos mais”, conta emocionada.
Sibelle e Edésio formaram uma dupla de voz e violão e se apresentaram em muitos lugares e também gravaram uma música, de autoria de Edésio, em um estúdio profissional na cidade de Salvador.
“Foi um pilar forte em minha construção intelectual, musical e moral. Uma referência que me dignifica. A realização desse festival que leva seu nome é mais que uma obrigação, uma justa devoção a um homem que amou essa cidade como se sua fosse e que soube retribuir a acolhida com música e poesia, fazendo Juazeiro ser uma cidade especial. Edésio partiu, mas é desse tipo de gente eternizado em nossas vidas e como símbolo cultural da cidade”, afirma Sibelle.
Edésio Santos morreu no ano de 1998, com 67 anos. Sua única frustração foi nunca ter gravado um vinil com as composições autorais. E em respeito à memória e à contribuição de Edésio enquanto patrimônio cultura da cidade, a Prefeitura de Juazeiro, desde 2009, vem fortalecendo e melhorando a cada ano esse importante Festival que já se consolidou como um dos maiores do interior do Nordeste e com participações de artistas de todo o Brasil.
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