Sou médico cubano nascido no Brasil. Tive a oportunidade de viver em Cuba por 7 anos da minha vida, estudei medicina naquela ilha, lá tenho pessoas que considero como minha familia.
Cuba um país pequeno, sem recursos naturais como minério ou petróleo, tem somente 25% do solo fértil (o Brasil tem 85%), vive um bloqueio econômico cruel onde não pode comercializar com os Estados Unidos da América, nem quem comercializa com eles.
Criada junto aos EUA, a Organização das Nações Unidas para Saúde - (OMS), reconhece Cuba como uma das melhores saúde pública do mundo, com taxa de mortalidade infantil de apenas 4 para cada 1 mil nacidos vivos, todo e qualquer atendimento médico gratuito e sem filas. Um país muito seguro, onde as pessoas andam pela madrugada na capital sem medo, é o único país das Américas onde a droga já não é um problema (quase não existe).
Seu povo participa muito mais de suas decisões, sejam nas assembléias dos bairros onde elegem seus representantes locais, quanto nas eleições províncias ou nacional, sim em Cuba há eleições sim, e inclusive agora na constituinte onde existe debate e propostas em cada escola, fábrica, universidade e em cada bairro.
O grande problema de Cuba é econômico, dado principalmente pelo bloqueio econômico que o EUA desenvolve contra o país, restringindo e proibindo que empresas privadas norte-americanas realizem contratos com Cuba.
Em Cuba, a solidariedade internacional está na constituição, é lei e um valor moral, e isso fez que há mais de 50 anos, Cuba, mesmo sendo um país pobre, enviasse contingentes numerosos de médicos aos países que sofriam com catástrofes naturais ou guerras, somando já mais de 150 países e estando neste momento em mais de 60 países.
Cada ministério em Cuba tenta ser autônomo, ou seja dispor dos recursos que necessita, no caso a maior parte do recurso recebidos pelo Programa Mais Médicos vão direto à saúde pública cubana, que é 100% gratuita, universal e de qualidade, e ao contrário do Brasil, percebe-se que a corrupção não o desfacela. Prova disso é que ao iniciar o Programa Mais Médicos o governo cubano aumentou os salários de mais de 300.000 profissionais de saúde na ilha.
O médico cubano que vem ao Brasil ele é funcionário do Ministério de Saúde Pública de Cuba, o qual conheceu os termos do contrato, e decidiu por o aceitar antes de vir ao Brasil, com isso estes recebem o salário que recebiam em Cuba de forma integral (são repassados para suas famílias), assim como as garantias previdenciárias, e no Brasil recebem R$3800 de salário, mais ajuda de custo de moradia e alimentação que em geral superam os R$2.000, junto com uma passagem aérea anual, e a garantia de que não gastará nada com a educação, saúde e segurança de toda a sua família, ou seja, mais de R$5000 reais de renda mensal.
Eu como médico cubano nascido no Brasil e já revalidado, residente de Medicina da Família e Comunidade pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, vi como o Mais Médicos melhorou a vida do nosso povo pobre ao aplicar o que aprendemos na formação, em Cuba. A solidariedade, o humanismo, o compartilhar a dor do outro, pois somos iguais e não superiores.
Infelizmente iremos perder mais de 8000 médicos cubanos que se dedicavam exclusivamente a atenção primária de saúde em localidades mais distantes e mais necessitadas, cerca de 600 municípios ficarão sem nenhum médico segundo o Conselho Nacional de Saúde, mais de 28 milhões de pessoas afetadas.
Agradeço de coração a Cuba e aos seus médicos por trazer a esperança a muitos que já a haviam perdido e lamento o que pode acontecer de hoje em diante com nosso povo.
Salvador Carvalho - médico de família e comunidade.
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