Quando nós falamos sobre envelhecer, vem a nossa mente o declínio físico e, não raras vezes, até o mental. Tudo isso porque comparamos superficialmente o ser jovem com o ser maduro. Ser jovem é ser voluntarioso, destemido, é arriscar em busca de suas verdades, é progredir, é crescer física e intelectualmente. Ser maduro é saber conviver com as necessidades nefastas do físico graças à sabedoria armazenada através do tempo, é ser capaz de compreender o jovem e o novo, é ter maturidade.
Por que envelhecemos? Não é a decadência do corpo que se impõe como a busca da finitude, mas as mudanças do corpo que têm o significado da evolução. É bem conhecida a puberdade com crescimento de pelos e explosões hormonais como um preparo audacioso para a reprodução e manutenção da espécie. É o belo que surge daquele projeto recém-nascido que encheu de alegria os velhos pais, apesar do pouco encantamento ali presente na maioria das vezes.
A evolução física, tão decantada pelos poetas como em Seu corpo, Garota de Ipanema e tantas outras canções, acontece em mentes inexperientes, vaidosas, que pensam poder apalpar as nuvens. A evolução mental que descreve o viver e suas demandas, ensinando aos jovens o bom existir, reside em um corpo castigado pelas mudanças que proporcionaram a evolução dos saberes. Não existe mente sem corpo, nem corpo sem mente. O semblante se mostra como o espelho das interiorizações do ser.
As mudanças de nosso corpo procedem graças à evolução de nossos genes que, habitando os nossos cromossomos, transferem às novas gerações o aprendido hoje, que facilitará a continuidade da evolução da ciência. São as mudanças de comportamento que fazem surgir as trocas ou alternâncias intrínsecas do ser. Essas trocas ou alterações tornam novas as características da prole.
Envelhecer é a oportunidade de assistir ao desenvolvimento de suas semeaduras, é oportunizar outras vidas com o novo, cuja parte você construiu. Quem não envelhece não dá oportunidade a sua renovação com a inovação de seus genes. O cair com a velhice é uma opção de um viver mais ou menos intenso ou consequência de males preexistentes ou adquiridos, que, no entanto, deram-lhe uma forma especial de olhar a vida e produzir o diferente. E isso satisfez a sua vaidade.
Não é castigo, porque quem não finda, como o universo, envelhece como forma de renovação. Que castigo é esse que transita em mais oportunidades de alegrias e viveres diferentes? O seguir sempre igual trará sensações nunca vividas? Que tal escutar um alento que lhe orgulha de toda uma vida em prol desse reconhecimento atual? E assistir ao crescer de tantas coisas que você ajudou a construir? Castigo é o que se recebe por atitudes mal produzidas por você mesmo.
O adaptar-se a mudanças requer maturidade. A maturidade vem de exaustivas experiências vividas. E é a maturação do vivido e aprendido que nos faz descobrir os encantos do ocaso. Mas a luta será grande até lá. Assim, não é uma benção envelhecer, mas sim uma meta saber envelhecer. Dessa forma, armazenar todas as vivências para a velhice futura que, se não acontecer, nada foi perdido, constitui-se como uma boa diretriz para viver. A benção é o próprio nascer. É a força maior da manutenção da espécie que evolui.
Finalmente entregamos os pontos para o evento natural. Tudo na natureza, e porque não no universo, é dinâmico. Nada para, nada volta, sempre evolui para o novo, e esse novo assusta como todo desconhecido. Ninguém ama a decadência. Devemos nos preparar com uma vida saudável para despertar com uma velhice de qualidade. Por mais simples que seja sua vida, ela será sempre somente sua e daqueles que opinaram por lhe querer bem.
Oh! Envelhecer, eu te espero mais que antes e te desejo posto agora.
Wilson Barretto
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