Juracy Marques CHUTANDO DIAMANTES NO FUTEBOL DO BRASIL

15 de Oct / 2018 às 23h00 | Espaço do Leitor

O que estamos vivendo no Brasil não é uma disputa de futebol. Transgredindo as regras do jogo, torcidas inflamadas chutam, nos campos do nosso país, nossos corações. Alguns sangrando como o de Marielle Franco e Moa do Katendê, almas negras, sacrificadas como touros nas arenas cruéis da política brasileira.

Moa foi morto porque falou que votou no PT e Marielle por ser uma mulher negra ativista, que brigou com as milícias, que também tem polícia e políticos pelo meio. Neste momento em que escrevo, uma transexual acaba de ser espancada na Baixada Fluminense, um militante do MST, recentemente, torturado por causa de um boné do seu movimento. Nas paredes das escolas e universidades e nas peles das mulheres, picha-se, grava-se com canivete a suásticas nazista. Ao meu lado, alguém que amo muito diz que tudo isso é brincadeira. Ele veste a camisa do meu coração, feita da memória da minha pele.

Perguntaram-me por que a cor vermelha dos comunistas, do PT, ficou amarela? Respondi, na lata, que, além dessas forças serem coloridas, como o arco-íris do movimento LGBTQI, a questão é que mãos nazifascistas colocaram as unhas para fora e, agora e sempre, eu, você, alguém que você ama, podemos sangrar na próxima esquina das nossas ruas. Dessa forma, todas as cores, todas as camisas ficarão manchadas de sangue, ou seja, vermelha!

Como psicanalista, estudei o Freud que se amargurou no transcurso das duas grandes guerras, tendo sido alvo do antissemitismo. Suas irmãs foram mortas em campos de concentração. Ele ficou cáustico, mas, até o fim da vida, escreveu sem recuar um centímetro à barbárie. Em Psicologia das Massas, deixou o alerta de que a força nazifacista pode até recuar, mas onde ela encontrar adubo, brota. Chegou a vez do Brasil.

Alerta aos intelectuais e escritores: Hitler leu este livro de Freud e a partir dele escreveu “MeinKampf”, a bíblia do demônio! Em seguida, mandou matar judeus, gays, ciganos... e, entre os quais,  o Pai da Psicanálise, que fugiu, foi jogar na Europa que, hoje, assiste de camarote, esta partida de futebol nos trópicos. Eles costumam silenciar quando o patrocinador de times nefastos como esse, são os EUA.

Entre tantas coisas do Coiso, ele anunciou que:1. negros não servem nem para procriar, tratando-os com a adjetivação animal de arrobas; 2.que é homofóbico sim, com orgulho, e que mudaria de lugar se tivesse um vizinho gay; 3. Já antecipou que não irá demarcar mais nenhum centímetro de terras indígenas; 4. defendeu que mulheres devam ganhar menos porque engravidam;5. Se colocou a favor da tortura e elogiou o monstro Ustra; 6. Pegou nas mãos das crianças para estimular o armamento, dizendo que seu filho, já pegava em armas aos 5 anos…

Isso não é de se espantar vindo de uma espécie como a dele. O que impressiona mesmo é negros, índios, mulheres e LGBTQIs votando nele, além dessa adoração esquizofrênica de pais e mães que subestimam um mundo de armas para seus filhos. Está provado que a pacificação de uma nação começa pelo desarmamento. Não quero armas nas mãos das nossas crianças, quero livros! Mas tem professores, também, que esqueceram essa lição.

Voltemos ao Velho Freud. Ele descreveu com maestria sobre um fenômeno de natureza biológica, psíquica e cultural, onde vítimas passam a adorar seus algozes, a Síndrome de Estocolmo.  Quanto mais são humilhadas e ameaçadas, mais passam a reverenciar seus agressores. Freud acertou na mosca! Lacan nomeou essa escolha mortífera como “gozo”.

Mas, há algo intrigante nessa ascensão nazifacista no Brasil. Sob o véu de um falsificado ódio ao petismo e ao comunismo, esconde-se o gensupremacista, racista, enraizado numa aversão ao pobre, que, no caso do time brasileiro, tem o rosto mestiço, negro, indígena.

Então o que estamos vendo é uma carnificina, teatralizada no carnaval do judiciário brasileiro, declaradamente partidário. Juízes e promotores estão jogando num time que, da forma mais perversa, está ganhando a partida. Conseguiram prender o Pelé da Esquerda no Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva e, estão, a um passo, de entregar a taça aoHitler Tropical, apelidado pelas nossas mulheres de O Coiso!

Mas até os árbitros, diga-se a mídia, que, como regra, sempre torceram para os nazifascistas, está um pouco apreensiva. Erraram nos cálculos e viram que, no fundo, por trás dessa massa hipnotizada de iludidos, esconde-se uma miríade de pastores evangélicos parafrêncios. Há outro fenômeno que não localizo: militantes de esquerda, que lutaram contra a ditadura, humanistas magoados que, agora, são Bolsonaro. Preciso de mais uma encarnação para entender esse comportamento. É o pior de todos!

 

Cristo nas suas mensagens negou a violência e pregou o amor. Nas igrejas protestantes, sob a ordem dessas raposas capitalistas, adora-se a bancada da bala e prega-se o amor a quem defende a tortura. Esqueceram como Cristo foi morto. Lembro-os: torturado numa cruz! Não tenho dúvida: estes irão para o inferno!

Mas, até aqui nada doeu tanto quanto ver amigos, irmãos, amantes e amados, aderirem a esta onda nazifacista. Só os imorais vibram com tanta veemência por essa hipócrita moralidade. Isso! São os imorais que estão pregando a moral nazifacista: pastores ladrões, juízes supremacistas, mídias capitalistas, políticos golpistas, por exemplo. Estes também irão para o inferno jogar com o capeta!

Nessa partida de futebol que assistimos no Brasil, não devemos chutar diamantes. Estou pensando, cá com meus botões, como continuar jogando no meu time, depois que este pesadelo terminar, aliás, começar.

Seriam estes meus vizinhos, parentes, amigos, amantes e amados, que me levariam para a fogueira? Para ser torturado? Como amá-los depois que os vi apoiar a força que pode matar-me? Com o mesmo entusiasmo que pessoas que amamos e acreditamos defendem essa onda nazifascista, cobraremos suas responsabilidades com o futuro do nosso país! Das nossas vidas! Se os perdoarmos, bateremos uma pelada com Deus e São Francisco de Assis no céu!

Esse perverso espetáculo midiático e jurídico do qual somos vítimas, não pode roubar nossos sonhos, nossa alegria! Como disse-me, certa vez, o nordestino Ariano Suassuna Não tem tirania que sobreviva ao riso”. O que peço, a você agora é que, nessa partida de futebol alucinante, não chute seus diamantes como se fosse uma bola de futebol. Ele é um coração vermelho, que sangra!

 

 

 

Artigo Juracy Marques Professor

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