A palavra pode tudo. Ela pode destruir como ela pode construir, diz Conceição Evaristo, homenageada da Flica

14 de Oct / 2018 às 05h30 | Variadas

A voz mansa de Conceição Evaristo ecoou pelos corações do público que lotou o Claustro do Convento do Carmo, em Cachoeira, na noite de ontem sábado (13). Uma noite especial, com fogos, cântico para Oxum e muitos aplausos. Tudo para reverenciar a máxima autoridade e potência da escritora mineira e imortal das letras.

“Na minha cabeça e no meu coração, e tenho certeza que na cabeça e coração de todos vocês, ela é a nossa imortal”, disse Lívia Natália, poeta e doutora em literatura, que fez as honras da Flica ao conduzir Conceição Evaristo em um bate-papo doce e cheio de esperança.

A escritora mineira, homenageada nesta oitava edição da festa, recebeu uma escultura de um artista plástico cachoeirano, o “Doidão Master”, que foi entregue pela secretária de Cultura do Estado da Bahia, Arany Santana.

“Agradeço a Flica por essa homenagem. Eu vou ser, talvez, um pouquinho ingrata, pois esse será um agradecimento em aspas. As feiras que têm reconhecido a nossa escrita negra não faz mais do que obrigação”, destacou Evaristo, sendo aplaudida de pé pelo público.

“Em momento algum nós estamos ganhando presente. Nós estamos chegando em lugares que sempre foram nossos. Esse lugar, eu não tenho dúvida, é da escrita negra sim, de hoje, que marca a literatura nacional. Fica o meu agradecimento, mas o meu agradecimento fica entre aspas”, pontuou.

Sobre não ter sido escolhida para ocupar uma cadeira para a Academia Brasileira de Letras (ABL), Evaristo disse: “Se as culturas africanas, as línguas africanas, dentro de casa, escravizadas, perturbaram, modificaram e marcaram um dos bens mais simbólicos, que é a língua, então, a ABL é nossa”.

[Aqui você destaca em aspas] “Eu reivindico esse espaço como sendo nosso. Então, nós temos que estar lá. Eu coloco isso na minha carta de candidatura. Então, é nossa sim. Mas eu não sei se eles têm consciência disso”

Como em todos os bate-papos que já aconteceram nesta edição Flica, até a noite deste sábado, o momento político que o Brasil vivencia também deu o tom do diálogo.

“Nós [povo negro] criamos anticorpos para isso que está acontecendo agora. Nós somos alvos há 530 anos. Nós conhecemos tudo isso aí. O que a gente está vendo, com o avanço desse fascismo, não é apenas os preconceituosos saindo do armário, é o país dizendo que cara ele tem, e isso nós já conhecemos. Ele não. Ele nunca”, disse Lívia Natália, sendo acompanhada por gritos de “Ele não” da plateia.

Foto: Divulgação Flica Ricardo Prado

© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.