Por Janaína Spolidorio
A tecnologia teve um avanço estrondoso nas últimas décadas, acelerando novas formas de aprendizagem e tornando mais estreito o relacionamento entre homem/máquina. Há uma série de vantagens neste fato, mas ele também traz alguns problemas que têm se acentuado bastante conforme a tecnologia se faz mais presente em nossas vidas.
É muito fácil lidar com a máquina! Vemos crianças mal saídas das fraldas tendo um contato extremamente intuitivo e natural com smartphones e tablets. É um relacionamento fácil, pois quando se cansa ou muda de ideia, ela mesma é quem controla o aparelho, então pode mudar de vídeo ou de aplicativo, num “tocar de dedos”, sem que o aparelho insista que ela continue ali.
Fazer o que se quer é fácil quando estamos lidando com máquinas, mas não nos relacionamentos entre as pessoas. É exatamente por este motivo e neste ponto que a escola deve intervir. Quando a criança está na escola as coisas se complicam. Ela tem que conviver com relacionamentos, entre ela e o professor, ela e os colegas e ela com outras pessoas também presentes no ambiente escolar. Nem sempre ela sabe como fazê-lo, porque neste ponto é preciso saber lidar com sentimentos e emoções, como limitações ao que ela deseja fazer, perseverança nas tarefas e convivência analógica.
Muitas escolas têm adotado, com razão, em seus currículos, horários para desenvolver competências socioemocionais. Pode ser feito com um material extra curricular ou com a inserção de atividades com o tema entre as disciplinas aprendidas. Se perguntar para mim, sugiro a segunda opção, porque dá uma maior liberdade nos temas a serem trabalhados.
O socioemocional, embora tenha ganhado um lugarzinho de destaque em muitas escolas, não deve ser trabalhado apenas em uma “aula engessada”. Deve se incorporar à rotina! Já tive contato com muitas escolas que têm um programa de aprendizagem socioemocional até apostilado, mas em suas ações diárias não acompanham o que “pregam” nas aulas. Há uma separação evidente do que se diz e o que se faz. É preciso tomar cuidado para que isto não ocorra!
O correto é sempre lembrar os alunos dos temas, e fazê-los refletir diariamente sobre suas ações e o correto a se fazer nas mais variadas situações. Ensinar a resolver discussões de modo civilizado, tentando controlar as emoções; incentivar o pensamento autônomo dos alunos, para que se tornem críticos de modo positivo e desenvolver habilidades como trabalho em equipe, resolução de problemas e gerenciamento das próprias emoções podem ser de grande valia para a vida dos alunos hoje e sempre.
Imagine o tanto de situações cotidianas que ocorrem em uma escola e podem ser um gatilho excelente para que o aluno aprenda a se relacionar e controlar suas emoções, mas não de modo a contê-las, reprimindo-as, mas lidando com elas de uma maneira sadia e confortável a ele e aos outros. Quando bem trabalhadas, as competências socioemocionais começam a aparecer em pequenos detalhes da convivência do aluno e eles se tornam mais participativos e interessados.
Muito se fala da indisciplina e cada vez mais vemos casos relacionados ao assunto. Outro ponto positivo do trabalho com as competências socioemocionais é exatamente a redução desta indisciplina, uma vez que os alunos começam a explorar mais suas potencialidades, conhecendo-se melhor, percebendo seus limites e responsabilidades. Além disso, um bom trabalho neste quesito pode ajudar a melhorar os índices de aprendizagem, tornando as aulas interessantes tanto para o aluno quanto para o professor, pois o ambiente escolar se torna mais harmonioso e dá lugar ao principal objetivo da escola: a aprendizagem.
* Designer de atividades pedagógicas, Janaína Spolidorio é formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital. Ela atua no segmento educacional há mais de 20 anos e atualmente desenvolve materiais pedagógicos digitais que complementam o ensino dos professores em sala de aula, proporcionando uma melhor aprendizagem por parte dos alunos e atua como influenciadora digital na formação dos profissionais ligados à área de educação.
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