Líder nas pesquisas de intenção de voto sem o petista Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) tem mais chances de subir a rampa do Planalto depois do atentado sofrido ontem em Juiz de Fora (MG), afirmam analistas. “Simbolicamente, ele fica fortalecido, e os ataques a ele podem se reduzir”, diz Maria Tereza Sadek, professora de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP).
“Ele ganha votos por simpatia e pena”, explica David Fleischer, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). Na avaliação do professor, as chances que aumentam são de vitória no segundo turno, pois a possibilidade de Bolsonaro chegar à etapa final era praticamente certa antes da agressão, segundo as pesquisas.
“A rejeição dele agora tende a diminuir”, ressalta. Para o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a tendência é de radicalização ainda maior dos partidários de Bolsonaro. “Perdeu-se espaço para outros presidenciáveis sensibilizarem o eleitor com racionalidade. Agora, entramos em uma fase passional. Bolsonaro vai criar um contexto de vitimização e ataque que só beneficiará quem já estava em uma campanha de radicalização”, pondera.
Na avaliação de Baía, o clima de passionalidade tende a beneficiar o vice-candidato do PT e potencial presidenciável petista, Fernando Haddad. A narrativa construída pela legenda, de prisão política e injustiça das corporações com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode fortalecer a candidatura. “A retórica radical petista deve tirar votos de Ciro Gomes (PDT) e levá-lo ao segundo turno contra Bolsonaro”, sustentou.
As perspectivas de polarização entre PT e Bolsonaro no segundo turno não são tão nítidas na avaliação de Figueiredo, da UFF. Para ele, a corrida eleitoral ainda está aberta. A associação com a esquerda política e o passado vinculado ao PSol do suspeito de agredir Bolsonaro, Adélio Bispo de Oliveira, podem aumentar a rejeição aos petistas. Fleischer também vê riscos para Haddad, “que já está fraco”.
Uma unanimidade entre os analistas é o fato de que o atentado muda a situação das disputas políticas no país. “É a pior coisa que pode acontecer à democracia. Algo muito significativo é a presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, sempre muito discreta, ter se pronunciado tão prontamente. Isso é inédito na eleição brasileira”, destaca Fleischer. Remete, ele nota, ao que aconteceu em 1968, quando o senador democrata Robert Kennedy, que pretendia ser eleito presidente, foi assassinado no lobby de um hotel em Los Angeles.
Os outros candidatos, a partir do ataque, não devem se sentir à vontade para explorar a contradição de que Bolsonaro, agora vitimado, fazia apologia da defesa das pessoas por meios próprios contra o crime, incluindo o uso de armas.
“Esse discurso é perigoso, pois pode se voltar contra quem usar”, alerta Fleischer. Roberto Romano, professor de filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta para o risco oposto. “Se ficarem na defensiva, como estão, os adversários de Bolsonaro vão se tornar vulneráveis a ataques dos correligionários dele, como se admitissem que são responsáveis pelo que aconteceu”, afirma.
Na avaliação de Romano, os candidatos deveriam ter lamentado o atentado, mas, em seguida, ter ressaltado que Bolsonaro foi vítima do tipo de atitude que sempre alardeou. Em 3 de setembro, por exemplo, o candidato do PSL disse durante um ato de campanha: “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”. Para Romano, se não explorarem isso, os adversários de Bolsonaro podem perder votos.
“Eleição só se ganha com ataque. Foi assim, sobretudo, com Fernando Collor e com Dilma Rousseff, que, aliás, exagerou na dose devido à atuação de seu marqueteiro, João Santana”, avalia.
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