O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse nesta quarta-feira, que não quer os votos do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, a quem classificou como "projetinho de Hitler tropical". Segundo Ciro, "uma fração dos brasileiros" tem uma pedra no lugar do coração, são egoístas e não se preocupam com os 13 milhões de desempregados". O pedetista afirmou ainda querer "distância dessa gente".
"Eu não quero buscar os votos de todo mundo, não", respondeu quando questionado sobre como faria para conquistar os votos de Bolsonaro. "Eu quero buscar os votos dos brasileiros, homens e mulheres, decentes, equilibrados, serenos, que tem solidariedade com os mais pobres. O Brasil tem uma fração da população, que respeito porque é o meu povo e quero ser presidente de todos, mas há uma fração que vive com uma pedra no coração, são egoístas, pouco estão se lixando para os 13 milhões de desempregados, pouco estão se lixando para o problema dos 32 milhões que vivem correndo da repressão nas ruas para vender", disse.
"Bolsonaro não é ignorante; ele passou na Academia Militar das Agulhas Negras. Bolsonaro é mistificador, perigoso e fascista. (Ele) é um projetinho de Hitler tropical e muito mal preparado porque Hitler pelo menos era um intelectual razoável", complementou.
Ciro emendou citando como exemplo o polêmico episódio no qual Bolsonaro se desentendeu com a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). A discussão rendeu um processo contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). "(Esses brasileiros) estão pouco se lixando se 60 mil mulheres foram estupradas, fazem até piada. Dizem para uma própria colega, como o Bolsonaro disse, que não a estupra porque ela é feia", lembrou. "Quantos desses estupros aconteceram porque o cara está escorado num candidato popular. Eu não quero agradar essa gente, quero distância, dela".
Apesar das críticas, Gomes acusou Bolsonaro de manipular o sentimento do seu eleitorado, quando foi perguntado sobre o desempenho do candidato do PSL em entrevista do Jornal Nacional, da TV Globo. Em seguida, ele pediu "pelo amor de Deus" que os brasileiros "não brinquem com o futuro".
"Fui disparado melhor que o Bolsonaro (no JN), o que não é vantagem pra mim. Pensa num cabra despreparado, é uma coisa chocante. Não sei como alguém no Brasil, o povo brasileiro do jeito maravilhoso que é, aceita...", disse antes de corrigir sua análise. "Até entendo o povo. O Brasil está zangado com a política, sofrido, humilhado, muito assustado com a impotência do Estado de resolver os problemas.
Ele (Bolsonaro) interpreta com despudor e desonestidade esses sentimentos instintivos básicos, primatas, de uma fração dos brasileiros. É preciso respeitar as pessoas, mas pedir a elas, pelo amor de Deus, em nome do futuro, que elas não brinquem com o futuro", argumentou.
Ciro ainda comentou um episódio apelidado por Bolsonaro como "kit gay", em referência a um material didático preparado pelo Ministério da Educação durante o governo Dilma Rousseff. O candidato do PDT disse que não veria problema se seu filho, de dois anos de idade, brincasse com uma boneca. "Isso é uma grande baboseira, uma imensa baboseira que vai predispondo o estigma contra pessoas que, só por uma orientação sexual diferente, amam diferente do tradicional. O que nós temos com isso?", questionou. "Eu tenho um filho de 2 anos e oito meses e se ele ficar brincando com a boneca, eu brinco junto. Qual é o problema? Ou alguém acha que alguém vai afirmar a sua orientação sexual por causa de um brinquedo? Isso é de uma ignorância estapafúrdia", complementou.
As declarações foram feitas em visita à sede da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil, em Brasília, onde Ciro assinou compromissos na área de educação.
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