Filme lançado em circuito nacional 'Onde está você, João Gilberto', revela árduo caminho do compositor

27 de Aug / 2018 às 18h32 | Variadas

Onde Está Você, João Gilberto?, documentário do francês Georges Gachot, lança a pergunta que todo fã de música brasileira se faz há vários anos. À luz das mais recentes notícias envolvendo o pai da bossa nova – interdição pela família, contas bloqueadas, dívidas, despejo, processos na Justiça –, o filme tenta elaborar um mítico retrato da ausência de um ídolo.

Longe há quase uma década dos holofotes, João Gilberto, que nunca foi muito chegado a exposição, tornou-se alvo da obsessão de Marc Fischer, um alemão que veio ao Brasil obstinado a ouvir do próprio músico a canção Ho-ba-la-lá. Não conseguiu. Relatou a experiência no livro À procura de João Gilberto, publicado em 2011.

Em 2014, Georges Gachot, impressionado com o livro e com morte de Fisher, decidiu seguir o encalço do autor para chegar a Gilberto. O cineasta apreciador de música brasileira dirigiu Onde está você, João Gilberto?, documentário recém-lançado nos cinemas nacionais. O filme contribui, no entanto, para engrossar a áurea mitificada que paira em torno do pai da bossa-nova e para atiçar a curiosidade sobre a vida dele.

Juntam-se ao documentarista pessoas que foram próximas ou que trabalharam com Gilberto — ilustres como Miúcha, João Donato, Marcos Valle e Roberto Menescal contribuem para fazer um retrospecto de seu trabalho para o entendimento de sua forte persona.

Miúcha vê Onde está você, João Gilberto? como um respiro para a imagem dele. Não à toa. “No meio de tanto vodu que fazem em cima do Gilberto, finalmente aparece uma coisa leve a respeito”, desabafa em entrevista ao Correio Braziliense a cantora com quem o bossanovista foi casado. Ela se indigna com o fato de que “foi necessário um alemão para prestar essa homenagem”.

Antes, uma excentricidade, a reclusão de João Gilberto, hoje, aos 87 anos, tornou-se uma necessidade. Associada à solidão a que sempre esteve habituado, juntam-se os problemas de saúde — a filha Bebel Gilberto chegou a pedir sua interdição pela suposta incapacidade de assinar documentos — e de finanças — agravados, entre outras razões, pelo cancelamento de turnê depois de já ter recebido parte do cachê em 2011.

Miúcha diz que Gilberto a visitou nas últimas semanas e que mantém contato regular. Reclama da predominante imagem negativa atribuída a ele. Diz-se que enlouqueceu, faliu, isolou-se, que está muito magro e frágil demais para sair de casa; verdade ou não, para Miúcha, pouco é celebrada sua importância para a música brasileira, que deve a ele a invenção da bossa-nova, um dos maiores cartões postais do Brasil no mundo. Miúcha acrescenta que o cantor tem novas composições e que tenta convencê-lo a liberá-las, sem muito sucesso.

“Sempre foi uma pessoa muito escondida, muito reservada, muito sozinha. Não é coisa nova”, conta João Donato, que atribui o isolamento à “personalidade dele”, “sempre foi muito solitário”. Antigo parceiro habitual de Gilberto, Donato não vê o músico há cerca de 20 anos. No início do distanciamento gradual, ainda tentava comunicá-lo vez ou outra. “Não tento mais. Ele parou de atender a mim e a outras pessoas, deixei de telefonar”.  

Além de contribuir com depoimentos, Donato participou da escolha das músicas que foram para o documentário. “Mostrei opções para Gachot e, depois, ele fez a seleção final”. Músicas do João Gilberto, como não podiam faltar, ressoam ao longo do documentário, que também inclui novos trabalhos de Donato, como canções do álbum Donato elétrico, de 2016, com participação do grupo Bixiga 70.

Correio Braziliense - Foto Ivan Cruz

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