A insistência do PT na candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, preso após ser condenado em segunda instância por crime de corrupção, abre espaço para outros postulantes ao Planalto disputarem votos no Nordeste, região com quase 40 milhões de eleitores. Sem o ex-presidente na disputa, 10 milhões de pessoas ficam sem saber em quem votar, segundo as últimas pesquisas.
Nesta semana, Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT) visitam os nordestinos com chapéu na mão para apresentar suas propostas de governo. Mais para frente, Jair Bolsonaro (PSL) faz o caminho.
Os 39,2 milhões de eleitores do Nordeste representam 26% do total de votos do país. A representatividade de Lula na região pode não sobreviver à falta do nome dele nas urnas, se o capital político do ex-presidente não for transferido para Haddad.
De olho nessa possibilidade, Marina Silva viajou ontem para Fortaleza e, depois, seguiu para Recife (PE). Foi em busca dos beneficiados do Bolsa Família. Geraldo Alckmin também arregaçou as mangas. No intuito de evitar o baixo desempenho na região, marcou compromissos oficiais para quinta-feira (23) em Teresina, em Parnaíba (PI), e em Petrolina, interior pernambucano.
Com as bênçãos de Lula, Fernando Haddad visitou o Piauí. A partir de hoje, sai em peregrinação pela Bahia, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Maranhão. A previsão é de que o giro dure ao menos cinco dias. Ciro Gomes passou o fim de semana em seu reduto eleitoral, o Ceará, estado que governou nos anos 1990.
“Sem o Lula na chapa presidencial, abre-se uma ferida grande no Nordeste, região tradicionalmente eleitora do PT. Aproximadamente 30% das pessoas que votariam nele ficam sem saber para onde ir. O resto segue o partido”, acredita o professor de ciência política na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira. O especialista diz que a migração dos votos ocorre, principalmente, pelo desinteresse do eleitor na política.
Esse é um ingrediente necessário para Jair Bolsonaro melhorar o desempenho entre os nordestinos. O deputado combinou uma visita a Crateús (CE), cidade natal de seu sogro, e a Recife, terra do presidente do PSL, Gustavo Bebianno. As datas ainda não foram divulgadas pela equipe do candidato, cuja popularidade é baixíssima na região. Para virar o jogo, assessores de Bolsonaro apostam nos indicadores de segurança pública, sua principal bandeira.
O consultor Marcelo Caldeira explica que a baixa escolaridade no Nordeste faz com que seja mais difícil convencer o eleitorado. “Metade dos analfabetos do país mora no Nordeste (o total é de 11,8 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e eles são fiéis ao PT. Não acompanham o noticiário nem têm acesso à internet. É mais difícil conseguir mudar a cabeça deles”, explica o ex-coordenador de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Caldeira acredita que o desafio é fazer com que as pessoas saibam quem são os candidatos, compreendam as ideias deles e façam a ligação entre o nome e a pessoa. “Não adianta nada você olhar o Bolsonaro ou a Marina na rua e não saber quem eles são na hora de votar na urna eletrônica. Essa associação vai ser muito complicada, ainda mais nesta eleição, que será curta e sem dinheiro. A briga vai ser grande”, aponta.
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