Nem sempre o tráfico de pessoas ocorre de forma forçada. Na maior parte das vezes, o crime começa com a promessa de realização de um sonho: um pedido de casamento que pode mudar a vida de mulheres, a oferta de um emprego ou a chance de seguir a carreira de modelo ou de jogador de futebol. Só quando o sonho vira pesadelo é que as vítimas percebem que foram alvos de aliciadores, dizem autoridades que atuam no combate a essa prática. A dificuldade em perceber a prática do crime desde a origem tem sido um dos principais desafios no enfrentamento ao tráfico humano.
“Muitas vezes as vítimas não se enxergam como vítimas desse crime ou têm medo de denunciar por sofrer represália porque os aliciadores conhecem as famílias. A principal dificuldade hoje é ter dados mais concretos deste crime”, afirmou Marina Bernardes de Almeida, coordenadora de Política de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Ministério da Justiça.
Analista do Programa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Fernanda Fuentes lembrou que as maiores vítimas desse tipo de crime são as populações vulneráveis que geralmente têm menos informações e buscam melhoria da qualidade de vida. Fernanda ainda destacou que mulheres e crianças são as principais vítimas dessa prática. Relatório das Nações Unidas confirma o dado ao apontar que 71% das pessoas traficadas são meninas e mulheres.
O Brasil e a Colômbia são os dois países latino-americanos que recebem apoio do UNODC para enfrentar essa prática através de um programa financiado pelos países da União Europeia para fortalecer a ação de governos locais. Segundo Fernanda Fuentes, um dos maiores desafios no combate ao tráfico humano no país é a diversidade regional que acaba refletindo nos diferentes objetivos que a prática pode adotar dependendo da região em que ocorre.
“O tráfico de pessoas é enfrentado em rede, tanto pelo governo quanto pela sociedade civil. Dependendo de onde ocorre, há objetivos diferentes prevalecendo. Em algumas regiões é o trabalho escravo, em outras a exploração sexual. Por isso é importante a participação de organizações da sociedade civil que podem ajudar a enfrentar o crime dentro do contexto local”, afirmou.
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