Final de mais uma Copa do Mundo, sonho da conquista não realizado, e a percepção concreta de que até no futebol tem tantos outros melhores no mundo e que insistimos em repetir que somos pentacampeões, mas não nos espelhamos nos acertos e evoluções das outras seleções. Não nos recordamos que, desde então, já se passaram 16 anos ou quatro Copas! O povo brasileiro tem experimentado tantos desgostos ultimamente, que o título até amenizaria as tensões emotivas diante das sucessivas decepções.
Quando se acorda após um sonho, belo ou não, o despertar passa por um leve tempo de reencontro com a realidade de um novo dia, quando num lapso de breves segundos, entre bocejos vários, muitas perguntas são feitas e você mesmo responde: “Que dia é hoje? Terça-feira, não, segunda! Está cedo, vou dormir mais! Não, está na hora de trabalhar! ”, e por aí os problemas vão fazendo você acordar pouco a pouco.
Há sempre a grande expectativa de que novos horizontes se apresentem, principalmente no instante em que estamos a apenas 78 dias de uma eleição tão importante. Pelo andar da carruagem, nada de novo. Não há novas caras, novos nomes ou novos discursos. Todos os candidatos a Presidente da República que aí estão, numa luta insana para formar coligações as mais esdrúxulas, como o possível casamento do DEM com o PDT. Mas, o que é mais importante e ansiosamente esperado por todos, não acontece: uma mudança radical de atitudes.
Sim, porque mesmo estando em curso num segmento do Judiciário uma nova postura na condução das investigações, julgamento e condenação de milhares de envolvidos em atos criminosos contra as instituições, reiteradamente percebe-se que novos casos e novos nomes vão se incorporando ao cadastro de “Fichas Sujas”. E o mais grave é que dentro dessa mesma Instituição que deveria ser a sentinela sempre alerta, há outro segmento que trafega pela contramão da história, no sentido de valorizar a impunidade, como se quisesse dizer ao país: “não há problema; eles prendem, nós soltamos”!
Um detalhe cultural deixado pela Copa e que pode ser visto como um legado, refletindo o comportamento do povo de uma jovem nação, foi passado como exemplo de caráter e dignidade pela jovem e bela Presidente da Croácia, Kolinda Grabar-Kitarovic, especialmente para o Terceiro Mundo, em que o nosso Brasil está inserido. A televisão divulgou a notícia – não negada em nenhum momento -, de que essa Presidente tirou licença não remunerada para ir à Copa, viajou em avião comercial, (vide foto) e pagou o seu próprio hotel! Além de ter ficado na tribuna de honra, com simplicidade e espontaneidade, vestida com a camisa da sua seleção, ao lado dos Presidentes da França, Rússia e da Fifa! De forma discriminada, deixaram a mulher na chuva durante a entrega das medalhas na final... A boa educação manda que primeiro as damas, mas, explicitamente pela TV, vimos primeiro os “cavalheiros”.
Diante desse modelar comportamento, vale lembrar que, quando da viagem do Presidente Temer para participar no Peru da Cúpula das Américas, o Deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), Presidente da Câmara e o Senador Eunício Oliveira (MDB-CE), Presidente do Senado, pela ordem segundo e terceiro substitutos imediatos, na falta do Vice-Presidente, simplesmente inventaram viagens oficiais, respectivamente, para o Panamá e para o Japão, a fim de não ficarem impedidos para a eleição de outubro/2018. Desnecessário dizer que além de familiares, levaram assessores, seguranças e colegas deputados e senadores convidados, num verdadeiro séquito de súditos do rei, recebendo diárias por nossa conta! E nós, por desinformados, somos poucos os que sabemos disso! Você sabia?
Registros da FAB informam que em 2017 o Rodrigo Maia utilizou jatos oficiais por 210 vezes, e 130 dessas viagens entre Brasília e Rio de Janeiro. O jato que utiliza gasta mil e duzentos litros de combustível por hora! O Senador Eunício utilizou jatos por 59 vezes. Mais parcimonioso! Assim, com lideranças políticas desse tipo e agindo com esse excesso de mordomia, não há distância comparativa com a Presidente Kitarovic! Perdem feio em tudo.
Concluo, reproduzindo uma frase bem conclusiva, usada numa charge na última semana (Folha-SP) quanto à penosa situação brasileira: “Por que não chamam a equipe que resgatou os meninos da Tailândia, para tirar o Brasil do buraco”? Triste!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil – Salvador - BA.
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