Um delator da JBS, o advogado Francisco de Assis e Silva, disse à Polícia Federal que foi pressionado a fechar um acordo judicial envolvendo uma das empresas do grupo para ajudar financeiramente Michel Temer. De acordo com o depoimento, foi José Yunes, amigo há décadas do emedebista, quem insistiu para que o negócio fosse acertado e fez intermediação para outro advogado, Paulo Henrique Lucon, que estava na causa em questão.
Lucon foi nomeado por Temer para integrar a Comissão de Ética Pública da Presidência em março deste ano. O episódio da pressão, segundo o executivo da JBS, ocorreu em junho de 2015. Yunes foi assessor especial de seu governo até 2016, quando foi citado na delação da Odebrecht, como intermediário de pacote com R$ 1 milhão que conteria dinheiro para campanhas do PMDB.
Segundo a versão levada à PF, Temer receberia uma parte dos honorários da causa.
"Em junho de 2015, Paulo Lucon propôs ao depoente para que colassem termo final em relação aos honorários de uma ação privada envolvendo a empresa Bertin, adquirida pela JBS, e a empresa Basf, na qual Paulo Lucon possuía honorários que, segundo ele, totalizavam R$ 60 milhões, ocasião em que o depoente informou para Lucon que de forma alguma teria interesse em realizar tal acordo uma vez que entendia que a causa seria ganha pela JBS", disse Assis e Silva à PF. O depoimento é de 23 de maio deste ano.
"Que, então, Yunes insistiu com o depoente para que repensasse sobre tal acordo com Lucon, uma vez que o então vice-presidente Michel Temer teria participação nos honorários que Lucon pleiteava na causa", completou.
O advogado da JBS afirmou desconhecer a relação comercial entre Lucon, Yunes e Temer. O caso não entrou na colaboração premiada da empresa. O depoimento de Assis e Silva aconteceu em meio à investigação da participação do ex-procurador Marcello Miller na delação.
O executivo afirmou à PF que não delatou o episódio por achar que era uma questão de "âmbito privado, sem ocorrência de ilícitos". Segundo o advogado, Yunes procurou primeiro Joesley Batista, dono da JBS. "Que depois indagou Joesley sobre o encontro, ao que foi informado por Joesley que o pedido partiu direto de Yunes para que fosse atendido por alguém de jurídico".
OUTRO LADO
Yunes disse que "exerce a advocacia de forma ética há mais de 50 anos e jamais utilizou influência política em seu trabalho". Para o ex-assessor de Temer, a "acusação do delator é falsa e representa mais uma ilegalidade na questionável delação da JBS". Em nota, o Planalto afirmou que "o presidente não teve qualquer participação neste processo e desconhece essa ação".
Paulo Lucon disse que "nunca houve qualquer tipo de pressão para ser feito acordo" e afirmou que a declaração do delator é "mentira". Lucon disse ainda que Yunes agiu como advogado, e que, na qualidade de mediador, atuou na tentativa de solucionar o conflito dentro da legalidade.
Amigo de Temer há mais de 30 anos, tendo atuado como consultor do presidente em ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Lucon disse que a mediação não chegou a ocorrer porque a JBS se recusou a pagar seus débitos que foram seguidas vezes reconhecidos pela Justiça.
Segundo o advogado, Temer nada tem a ver com o caso.
"Joesley e seu grupo desejam, das formas mais baixas e com ilações infundadas, distorcer a realidade e incriminar Michel Temer", afirmou.
Para o advogado, a maior prova de que não houve pressão é que até hoje a JBS não pagou o que deve, mesmo após seguidas e reiteradas decisões judiciais reconhecendo as obrigações da JBS com a Basf. "O processo é público e a falta de pagamento está lá demonstrada. O resto é invencionice de mal pagador."
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