Famílias brasileiras que foram separadas de menores na fronteira dos Estados Unidos estão penando para conseguir se reunir novamente com as crianças, apesar da ordem do presidente Donald Trump. As exigências dos abrigos incluem colher as digitais de todos os que irão conviver com o menor nos EUA (para verificar antecedentes criminais), visitar a futura casa, pedir comprovantes de renda e de casamento.
"Estamos tentando há dez dias, e nada. Um dos funcionários se referiu a nós como 'pain in the neck' [algo como 'um chute no saco']", diz a advogada Annelise Araújo, que representa a família de três irmãos que estão num abrigo no Arizona. As crianças, de oito, dez e 17 anos, pretendem se reunir com um tio e uma tia que estão em Massachusetts, do outro lado do país -a cerca de 4.000 km de distância. A mãe, presa pela patrulha da fronteira, não sabe quando será solta e já deu autorização expressa para que os filhos sejam reunidos à tia.
Apesar disso, levou uma semana só para marcar um horário para que fossem tomadas as digitais da família. "O mais frustrante não é que esse processo esteja sendo feito. Mas, nessa situação, a mãe já autorizou expressamente que as crianças fossem entregues à família. Não deveria haver toda essa burocracia", diz Araújo.
O governo americano argumenta que as medidas são precauções estabelecidas em lei para combater o tráfico de pessoas -no passado, crianças estrangeiras foram entregues a traficantes que haviam sido apontados como amigos da família pelos próprios pais. Por isso, o processo ficou mais exigente.
Até agora, pelo menos 51 crianças brasileiras foram separadas de seus pais ao atravessar a fronteira. Em todo o país, cerca de 2.000 menores estão na mesma condição.Outro ponto que impede a reunião de pais aos seus filhos é a demora do processo de asilo.
Muitos dos adultos que estão detidos argumentaram sofrer ameaças no Brasil e, por isso, pediram asilo nos EUA. Mas, nesses casos, o processo pode se arrastar por meses, como o de uma mãe brasileira que está detida no Texas e espera definição sobre seu caso desde março. Seu filho, de sete anos, ficou num abrigo por semanas, até ser entregue ao pai, que mora nos EUA.
Eu nunca vi uma mãe em situação semelhante de estresse", afirmou Brian Griffey, pesquisador da Anistia Internacional, que acompanha o caso da brasileira. "Ela está acabada. Em 30 segundos que começamos a conversar, ela se debulhou em lágrimas."
Os consulados brasileiros acompanham os casos e dizem estar intercedendo para ajudar a reunir as famílias o mais rápido possível, muitas vezes ajudando com tradução de documentos e orientações legais sobre o processo. Em nota, o Itamaraty já afirmou que a separação de crianças é "uma prática cruel" e cobrou o governo dos EUA a agir para reunir as famílias o mais rápido possível.
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