A evolução do número de pessoas internadas com queimaduras por fogos de artifício no Brasil mostra que o país tem resistido à cultura da prevenção nesse campo. O resultado é um quadro de danos que não parece sensibilizar mesmo quem, por distração, acaba queimando o dedo na panela. Em comparação com o total de habitantes, o número de internados, na faixa de 500 a 600 pessoas anualmente, é pequeno. No entanto, as consequências para os acidentados e suas famílias, além da pressão sobre os serviços de saúde e previdenciários, são drásticas.
Não há dúvida de que soltar fogos de artifício é, ao mesmo tempo, diversão e manifestação cultural. Ocorre que, sem os cuidados devidos, a brincadeira pode resultar em graves prejuízos, como queimaduras, amputações e até cegueira. Segundo uma tabela divulgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o Serviço Único de Saúde (SUS) registrou 385 internações de pessoas queimadas por fogos em 2008. Esse número equivalia a 0,20 por 100 mil habitantes. Em 2017, quase dez anos depois, o número de internados subiu a 486, ou 0,23 por 100 mil habitantes. Isso significa que mesmo o crescimento da população não foi capaz de reduzir a proporção dos casos.
A pedido da Agência Senado, o Ministério da Saúde disponibilizou uma atualização dos totais, mas apenas para os anos de 2015 (559 internações), 2016 (638) e 2017 (509), o que torna a situação um pouco pior em termos absolutos — não a altera significativamente em termos relativos.
De acordo com o CFM, no período de 1998 a 2016, o Brasil registrou 197 mortes por acidentes com fogos de artifício. Foram 84 acidentes fatais na região Sudeste; 75 na região Nordeste; e 33 na região Sul. Já nas regiões Centro-Oeste e Norte, foram registrados, juntos, 26 óbitos. Em média, os serviços públicos de saúde anotam 80 internações somente no mês de junho. Segundo o presidente do órgão, Carlos Vital, se considerarmos que em algumas regiões as festas juninas têm início nas quermesses de maio, e vão até julho, um terço de todas as hospitalizações acontecem apenas nesse período de 90 dias. "É preciso, portanto, ter cautela no manuseio desses fogos, sobretudo promovendo ações de proteção às crianças", alerta Vital em matéria no site da instituição.
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