No Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de Junho, o mundo volta todo o olhar para o Brasil, devido a riqueza do Patrimônio Ambiental, que chama a atenção internacional. Neste dia, exemplar onde o debate e reflexão são ampliados este Blog, com exclusividade, conversa com o atual Ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte. Nascido em Juazeiro, teve a experiência de ser vereador, deputado estadual e federal. Nesta conversa o ministro mostra a luta, palavra determinante para os desafios que ele enfrenta em defesa do meio ambiente, e obviamente, a conservação do Rio São Francisco.
Blog- O Dia Mundial do Meio Ambiente começou a ser comemorado em 72 com objetivo de promover atividades de proteção e preservação do meio ambiente e alertar o público e governos de cada país sobre os perigos de negligenciarmos a tarefa de cuidar do mundo em que vivemos. Qual a prioridade do governo brasileiro em relação a defesa do meio ambiente?
Precisamos cuidar dos nossos biomas para garantir a preservação da nossa biodiversidade. É fundamental preservar os rios, as nossas nascentes, para garantir a água, um bem tão importante. Mas eu destacaria, sobretudo, a necessidade de um trabalho de conscientização, de mobilização nacional para que todos participem dessa grande cruzada que é garantir a produção, garantir um país competitivo economicamente, mas ao mesmo tempo comprometido com a preservação de nossas riquezas. Dessa forma, o Brasil, como uma grande potência, estará contribuindo para os Acordos Climáticos diante do desafio que nós estamos vivendo
Blog- Ministro, no Brasil tudo parece urgente, a Amazônia, o São Francisco e outras questões. Como priorizar ações para o meio ambiente diante de tanta poluição e desmatamento?
Eu tenho uma convicção, na condição de ministro, de que sozinhos nós não venceremos nenhuma dessas batalhas, nenhum desses desafios. Tenho dito aqui para todas as nossas unidades, para os órgãos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente, que nós precisamos mobilizar parceiros, defendendo patrimônios naturais tão estratégicos e importantes como o Rio São Francisco. O São Francisco é um bem de todos os brasileiros, eu diria até da humanidade. A situação que o rio está vivendo aponta para uma situação de catástrofe social, de catástrofe econômica, já que ele é um grande vetor de desenvolvimento da região.
É pelo rio que as cidades se estabeleceram, cresceram, bem como o setor industrial, a agricultura, a navegação, o turismo e até a poesia, a música, tudo enfim é inspiração e resultado do São Francisco. Salvá-lo não pode ser missão de alguns poucos, mas de todos, e juntos será possível, e lógico com a participação dos entres federativos, aliados aos governos estaduais e municipais uma grande campanha de preservação do Velho Chico. Ressalto que este tipo de ação, essa estratégia, vale também para todos os nossos biomas, para todos os rios, para as mais de 200 mil microbacias que temos no Brasil, cinco grandes bacias hidrográficas, e ainda para a maior floresta tropical, diversos biomas, todos eles importantes e estratégicos, assim como a qualidade de vida no ambiente urbano.
Blog- Qual o desafio do Ministério para combater o uso de agrotóxico? Como conciliar aqueles que defendem o uso do veneno nas plantações e os ambientalistas que brigam contra o uso dos agrotóxicos?
É lógico que o agrotóxico não é a solução, e sim um remédio para uma doença, que é o desequilíbrio ambiental que deixa a agricultura vulnerável. Trata-se, também de uma alternativa bastante dispendiosa. Gasta-se muito com venenos. Isso faz com que a nossa agricultura seja, não apenas, a mais cara, mas também a que mais usa agrotóxicos no mundo - por quilo produzido e per capita e isso pesa na saúde e no bolso do agricultor. Acredito que devemos buscar uma transição para uma agricultura mais saudável. É o mesmo que eu aconselharia a uma pessoa que dependente de remédio. Eu diria: melhor do que comprar o remédio é buscar uma vida mais saudável que não precise do remédio, e é isso que nós precisamos fazer da nossa agricultura.
A produção precisa ser mais saudável, mais orgânica, com a recuperação dos solos, porque um solo forte faz com que a planta seja forte, e uma planta forte é uma planta que não adoece tanto e não é tão susceptível à praga. Agora, este é um processo de transição. O que nós não podemos fazer é negligenciar os cuidados com agrotóxicos, por que isso significa negligenciar os cuidados com a saúde pública. Não é à toa que temos visto tantas doenças no Brasil, sobretudo em crianças, idosos e em adultos. Certamente essa grande quantidade de doenças, sobretudo o câncer, têm a ver com a qualidade dos alimentos que nós estamos consumindo.
Blog-O Vale do são Francisco, e em especial Juazeiro e o estado da Bahia têm orgulho de ter um filho da terra olhando para o São Francisco. Quais os temas mais urgentes em defesa do Velho Chico?
Sem dúvida, o mais urgente é recuperar a capacidade hídrica de recarga do rio, por isso nós lançamos o programa de conversão de multas que está mobilizando aí algo em torno de 300 milhões de reais, já para este semestre, para ser aplicado sobretudo das nascentes em recuperação da capacidade hídrica no Alto e Médio São Francisco, onde estão 80% da recarga hídrica do rio, mas também na recuperação das margens, da mata ciliar, na capacidade produtiva no uso de água, com maior produtividade do tratamento dos esgotos. Enfim, uma série de ações no planejamento a médio e longo prazo, mas que possa trazer, quem sabe, efeitos a curto prazo.
Mas precisamos trabalhar na preservação do nosso rio e eu como barranqueiro do São Francisco, nasci muito próximo do seu leito, por isso ele sempre me traz boas lembranças. Por tudo que ele representa para nós, tenho me dedicado, como juazeirense, à minha contribuição de lutar pelos nossos problemas, sempre com um olhar muito atencioso ao Velho Chico. Tanto que, no programa de conversão o primeiro projeto escolhido foi o do Rio São Francisco.
Blog-Qual é a posição do Ministério do Meio Ambiente diante da proposta de viabilidade ou não da transposição das águas do Rio Tocantins para o São Francisco?
Pode ser uma solução, mas também pode vir a ser um problema. Eu visitei o Tocantins, discutindo com o governador e com as autoridades do estado, com a população, os ribeirinhos é de fato, trata-se de uma situação preocupante. Este sempre foi um rio caudaloso, um rio grande, com muita água, mas nos últimos anos, o rio enfrenta crises que nunca ocorreram antes, tendo chegado nas épocas de seca a sua cota mínima nas suas barragens. Na região de um dos um dos seus contribuintes, foi preciso parar toda atividade agrícola de produção de arroz por falta d'água. Integrar o Tocantins seria até uma solução possível, mas não definitiva. A solução seria utilizar melhor as águas do próprio Rio São Francisco, e também captar a águas da chuva, adotando uma agricultura mais moderna com menor gasto de água.
Enfim, seria um conjunto de ações para o São Francisco e o Tocantins e até integrando as bacias, se tecnicamente se mostrar que pode ser uma solução, pelo menos a médio-longo prazo, mas sempre com cuidado, e sempre entendendo que não é solução única. A situação do Rio São Francisco, se não resolvemos a grande dependência que tem hoje do rio, se não criarmos outras soluções mantendo, inclusive, as famílias no campo, que hoje estão migrando para as margens do rio e cidades por falta de trabalho, a situação irá piorar cada vez mais e aí, nem o Tocantins salva o São Francisco.
Blog-Assistimos recentemente, a luta do ministro, em apontar que o Brasil vai aproveitar todas as oportunidades de desenvolvimento sustentável proporcionadas pelo enfrentamento à mudança do clima. Como será a conciliação, por exemplo, da redução do carbono com a indústria, a grande indústria, que é a que mais polui e gera renda e emprego?
Isso obrigatoriamente precisa ser feito porque se chama competitividade industrial. O Brasil deve prepara a sua indústria para ser competitiva, isto é , investir em indústrias que poluam menos. Para ser competitiva, a indústria que polui muito, que mantém equipamentos defasados e que consome muita energia, ela não poderá competir na nova realidade de um a economia sustentável, de baixo carbono. E para isso, as indústrias precisam modernizar os seus equipamentos, trabalhar com eficiência energética, com fontes renováveis de energia e logísticas mais eficientes. E isso é perfeitamente compatível no Brasil, como no resto do mundo. É fundamental buscar compatibilidade ambiental e social e, antes de tudo, buscar a competitividade comercial. É isso que o Brasil precisa fazer, antes de ficar para trás rumo ao desenvolvimento esperado.
Blog-Qual o motivo de ser tão difícil a construção de um novo modelo de desenvolvimento ambiental?
Isso é causado pelo conceito cultural ainda arraigado nas sociedades, sobretudo em países emergentes e jovens, como o Brasil, onde parte da população ainda adota o comportamento do desbravador. De avançar, de ganhar o que puder, de ganhar espaços, de fazer patrimônio. Assim, as pessoas nunca estão satisfeitas, sempre querem mais. Precisamos lutar contra esses nossos valores arcaicos, e identificar melhor o que pode trazer felicidade, com base em novos padrões de vida. Conhecer este novo modelo, que traz um novo conceito de felicidade coletiva, e dessa forma, poderemos construir uma outra cultura que esteja mais próxima da questão socioambiental., das questões culturais, de valores éticos, da solidariedade. Compartilhando tudo isso, estaremos mais próximos de uma nova educação que traga esses valores já enraizados na vida e no cotidiano dos nossos jovens e crianças.
Isso é complexo, porque que enfrentamos uma economia emergente em que é instabilidade econômica faz com que muitos busquem acumular patrimônio para eventuais momentos de incerteza de dificuldades. Então, como nós estamos vivendo ainda de altos e baixos, isso ocorre, mas numa sociedade de competição todos acabam perdendo. Precisamos mudar isso, mas não esperando pela estabilidade, uma situação que venha de cima par baixo. Isso começa dentro de casa, mudando nosso comportamento com o meio ambiente, com a família, com os colegas. Uma sociedade ética.
Blog- Vereador, deputado e agora ministro. Isto garante o conhecimento de saber como é necessário o diálogo. Como o ministro tem realizado e comunicação com os órgãos públicos e privados, empresários e movimentos sociais?
O diálogo tem sido permanente, não apenas com os setores diretamente ligados às questões ambientais. Tenho conversado com todos, sobretudo aqueles que que estão mais distantes dessa agenda, como é o caso do setor produtivo. Aqueles que porventura estavam vendo a agenda ambiental como adversária Estou mostrando que somos aliados, e que a questão ambiental é importante para os ambientalistas, mas é também, e talvez até sobretudo, para o setor produtivo brasileiro e mundial. Para o país tornar-se mais competitivo, não adianta trabalhar, investir em grandes parques tecnológicos, grandes plantas industriais se amanhã pode faltar água. Vai tudo por água abaixo. Pode até faltar matéria-prima, ou o produto ofertado não ser aceito pelo consumidor, que alega que aquele produto não respeita a questão ambiental.
É para esse mundo que nós estamos caminhando. A luta ambiental não é só do Ministério do Meio Ambiente, dos ambientalista. Toda derrota nessa área, como os desmatamentos dos biomas, da Amazônia, da Caatinga, do Cerrado, dos Pampas Mata Atlântica, qualquer um deles, é uma derrota de todos os brasileiros. Precisamos lutar a favor de um país justo e digno para as futuras gerações.
Blog- O que o governo Federal faz para combater as ameaças internacionais em relação a soberania do meio ambiente brasileiro?
Há no Brasil o discurso que a defesa do meio ambiente é um atentado à soberania do país e que preservar o meio ambiente é um movimento de ONGs internacionais, para tirar a competitividade do país e a nossa força econômica. Na verdade, ocorre o contrário. Precisamos, sim, nos preparar para as mudanças que estão ocorrendo no mundo. O que esses países podem usar em nome de protecionismo econômico é exatamente o fato de o país agredir o meio ambiente. Com essa imagem do Brasil passa hoje, infelizmente, para o resto do mundo, isso pode vir a prejudicar o mercado brasileiro.
Então, quando defendem o meio ambiente, seja brasileiro ou estrangeiro, não vejo isso como qualquer ameaça. Muito pelo contrário, a competitividade brasileira passa num futuro próximo pela associação da agenda econômica com agenda ambiental, daí o segredo do sucesso para o Brasil. Vou dar um exemplo: energias renováveis e os biocombustíveis. O Brasil viveu agora uma grave crise de abastecimento, resultado de uma política de preços do petróleo lá fora. O nosso país precisa acordar para o suplemento nacional de fontes renováveis. Somos detentores de facilidades e de tecnologia, e assim a nossa economia não ficará tão dependente das imposições internacionais.
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