Não há quem não se deslumbre com a leitura do excelente título de Domenico De Masi, “O Futuro Chegou”, lançado faz pouco tempo. No capítulo que diz respeito ao Brasil, o sociólogo empreende ampla e balizada abordagem, que vai desde 1500, ano da invasão portuguesa, até 2013, quando conclui ele o primoroso ensaio.
Atém-se o autor ao que ele próprio chama de “modelo brasileiro”. Ou seja, depois de 450 anos copiando o modelo europeu, e de 50 anos copiando o modelo americano, o Brasil, finalmente, descobre seu próprio modelo. “O Brasil já se sente um país de ponta, capaz de propor mesmo ao exterior o próprio modo de ser e de servir como modelo alternativo de sociedade”, afirma o estudioso.
O estudo destaca os avanços celebrados nos últimos anos, principalmente com o advento da Constituição de 1988 e, mais recentemente, com a inserção das políticas de transferência de renda, e a consequente redução da pobreza. O texto destaca também a extraordinária capacidade que tem o povo brasileiro de criar, inovar, adaptar-se, “dar a volta por cima”, nunca se curvando diante dos obstáculos e tudo encarando em clima de festa e otimismo.
É lamentável, todavia, que o Brasil destes dias não seja mais o Brasil descrito pela pena inteligente e quase sempre poética do sociólogo italiano, autor também de “O Ócio Criativo”.
O Brasil que salta das páginas de De Masi é o Brasil da inclusão social, do Pronatec, do Prouni, do Fies, do Minha Casa, Minha Vida. É o Brasil da superação da miséria e do resgate da autoestima de milhões de homens e mulheres que, pela primeira vez na história do país, nortearam a agenda governamental. É o Brasil cujo governante chegou a obter 97% de aprovação e foi chamado pelo líder do “império” de “o cara”. (Bem diferente do Brasil destes dias em que o atual governante é rejeitado por 94% do povo, e tem de fugir das ruas para não ser vaiado e hostilizado).
O Brasil destes dias é o Brasil em que a cada semana um novo “pacote de maldade” é imposto aos pobres. É o Brasil do retrocesso, que volta a figurar no mapa vergonhoso da miséria. O país que caminhava para ser a quinta economia do planeta hoje não passa de uma “republiqueta de banana”, sem inspirar qualquer respeito ou confiança no concerto das nações.
O Brasil destes dias é o Brasil do golpe, em que o Estado é posto a serviço do grande capital (sobretudo do capital internacional) e a justiça é usada para perseguir politicamente os que ousam andar na contramão do sistema vigente.
O Brasil destes dias é o Brasil do desmonte de conquistas históricas como as das políticas sociais e das leis trabalhistas. É o Brasil do ódio dos ricos contra os pobres. É o Brasil que volta ao comando do poder econômico e financeiro.
O Brasil destes dias certamente não servirá de modelo para ninguém.
José Gonçalves do Nascimento
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