ARTIGO - BOLSONARO E O BEZERRO DE OURO

17 de Apr / 2018 às 10h30 | Espaço do Leitor

Frustrados nas suas expectativas, após o longo exílio do Egito, os hebreus resolveram construir um “bezerro de ouro”, “um deus que marchasse à sua frente” (Ex. 32, 1), como o único capaz de conduzir o povo pela tortuosa travessia daquele deserto infindo. 

Conforme o citado texto bíblico, foi necessária a intervenção do próprio Deus para que o mesmo povo, por conta daquela escolha precipitada, não viesse a degenerar-se, perdendo sua unidade e caindo nas mãos dos inimigos.

Nos anos que se sucederam à primeira guerra mundial, quando uma crise sem precedente se abateu sobre a Europa (espalhando fome, desemprego, falta de perspectiva, desconfiança em relação à classe política), o povo foi à caça de um “bezerro de ouro”, um “salvador” que “marchasse à sua frente”, salvando-o da desolação generalizada. Encontraram logo dois: Mussolini na Itália e Hitler na Alemanha. 

O resultado de tal escolha todos nós já conhecemos. Uma política baseada no ódio, no racismo, no xenofobismo, na força do arbítrio, na eliminação do diferente, no desrespeito às minorias, levou o mundo ao pior genocídio de todos os tempos – a segunda guerra mundial, que ceifou a vida de aproximadamente 50 milhões de pessoas.

Situação análoga vem ocorrendo no Brasil. A crise pela qual tem passado o país (crise ética, econômica, política, institucional, etc.) tem feito com que muitos, aqui e agora, também recorram ao seu “bezerro de ouro”, esperando que as coisas tomem outro rumo. Esse "bezerro de ouro" é Jair Bolsonaro.

A engrenagem política, todavia, é mais complexa do que se imagina e não é um “salvador da pátria” que vai mudá-la a toque de mágica, de um momento para outro, como muitos ingenuamente chegam a acreditar. Principalmente quando esse “salvador da pátria” vem revestido do que há de mais abominável, como o ódio, a homofobia, o racismo, o machismo, a misoginia, a apologia à violência, e a intolerância em todos os seus níveis.

José Gonçalves do Nascimento.
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