O tempo ideal para realizar cirurgia de fratura infantil é de até 72 horas após lesão e isso o Martagão Gesteira garantia a população, já que a média de execução do procedimento na unidade era de 48 horas após o primeiro atendimento. Entretanto, uma abrupta rescisão de contrato realizada pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) está modificando esse quadro e gerando uma crise na assistência ortopédica infantil. Já que a pasta encerrou o contrato de ortopedia com o Martagão, a nova realidade passa ser de 12 a 15 dias na marcação de cirurgias, "o que acarreta no consolidar e remodelar da fratura, passando para tratamento da lesão e não a correção devida", como explica o médico ortopedista e conselheiro do Cremeb Fernando Cal Garcia.
É importante contextualizar que o Martagão Gesteira é o único hospital infantil ortopédico e traumatológico do Estado, com uma equipe de profissionais treinada na assistência à criança. Ainda assim, a Sesab preferiu cortar a verba destinada por acreditar que o Hospital do Subúrbio pode assumir essa demanda, fato que confronta a realidade recentemente exposta pela imprensa. Somente na TV Bahia, por exemplo, foi noticiado distintos casos em dois dias (26 e 27 de março), onde crianças com fraturas estão submetidas a uma vaga na Central de Regulação, que possui cerca de 1,4 mil pessoas na fila atual, com apenas 150 vagas por dia.
"A nossa esperança é que essa medida seja revista e que a criança portadora de fratura possa ser tratada de forma ética e correta", pontua o conselheiro Fernando Cal. A estrutura por trás do atendimento ambulatorial é mais um fator importante e negligenciado pela Sesab. "Além do agravo às cerca de 120 crianças atendidas por dia, o Martagão tem a sua especialidade justificada com os projetos de residência médica com 10 preceptores, ponto de estágio supervisionado, equipamentos e estrutura focados no atendimento infantil e o cumprimento de oito turnos cirúrgicos por semana", enfatiza o conselheiro.
Outro ônus desse processo é a possibilidade de demissão de muitos profissionais da assistência à criança, do Martagão, já que o corte de verba – R$ 69 mil mensais – diminui o serviço prestado. "Tendo em vista que a falta de recebimento da verba mensamente paga pela Sesab levará a falta de atendimento dos pacientes, por conseguinte não teremos recursos para custear os profissionais que prestam tais serviços", informa a diretoria do hospital.
Como se não bastasse o déficit na assistência ortopédica, os serviços de cirurgia cardíaca e neurocirurgia também passam por limitações orçamentárias, embora não tenha havido rescisões contratuais nessas especialidades. "Os mesmos se mantêm limitados em seus orçamentos, o que nos impede de aumentar a produção e conseguir abarcar o atendimento às crianças que necessitam de acesso rápido a essas cirurgias, a exemplo de crianças com tumores cerebrais", explica a instituição.
O conselheiro Otávio Marambaia ressalta ainda que a restrição de verbas impacta também na área de otorrinolaringologia do Martagão Gesteira. "O serviço do hospital tem propiciado atendimento aos pequenos pacientes, mas encontrado muita dificuldade devido à restrição de verbas o que impede, por exemplo, o internamento para cirurgia em número necessário para evitar formação de grandes filas. No momento, mais de 100 crianças sofrem na espera de uma vaga para realizar procedimento cirúrgico de adenoides e amígdalas", afirma ele.
O caso será encaminhado ao conhecimento do Ministério Público do Estado da Bahia pela própria Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil – Hospital Martagão Gesteira: "Destacamos que nos encontramos abertos a negociações com o Estado da Bahia para futuras negociações quanto ao atendimento ortopédico e aos demais contratos citados acima, de forma a mantermos nossa missão quanto ao atendimento de qualidade para as crianças que necessitam de atendimento especializado", conclui.
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