O Brasil já conta com 22 milhões dos chamados nativos digitais, nascidos e criados a partir da década 1980, na era dos games e da internet. Contrariando prognósticos de que a tecnologia apenas ajudaria a multiplicar informações e o círculo de amizades, muitas crianças e adolescentes nunca estiveram tão desconectados do mundo. Parecem hipnotizados por seus aparelhos móveis, perdendo a vontade de estudar, de brincar ao ar livre e até de conversar entre si e com os familiares, sem intermediação das telas.
Segundo estudiosos, muitos jovens já apresentam sintomas de vício em eletrônicos, como a queda no rendimento escolar, a insônia e o nervosismo sem causa aparente. Calcula-se que a cada cinco crianças e adolescentes, um sofre de um transtorno que necessita de tratamento especializado por se tornar antissocial, sofrer de insônia e apresentar queda no rendimento escolar. Por mês, quatro novos casos de compulsão por games batem à porta do consultório do psiquiatra José Belisário Filho, em Belo Horizonte. “É preciso entrar com medicação em alguns casos. Mas, felizmente, em outros é só uma questão de reorganizar o sono e melhorar a atividade física”, diz o médico.
O uso patológico dos videogames já é mencionado na quinta edição do Manual Estatístico e Diagnóstico dos Transtornos Mentais, espécie de cartilha da psiquiatria, lançada em janeiro. A “dependência de internet” está a um passo de se tornar a mais nova classificação psiquiátrica do século 21. “Na China, tornou-se problema de saúde pública, com a abertura de 150 centros de tratamento para dependentes de games.
No Brasil, muita gente não sabe que a dependência virtual é um problema”, alerta Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Programa Integrado dos Transtornos do Impulso (Pro-Amiti) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
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