Aumento da vazão de Sobradinho preocupa moradores do Angary; prefeitura diz que fará plano de ação

A notícia de que a vazão de Sobradinho deve chegar a 4 mil m³/s até o próximo dia 24 de janeiro, índice jamais visto desde 2009, preocupou os moradores da comunidade ribeirinha do Angary, situada às margens do Rio São Francisco, em Juazeiro. Isso porque os moradores temem situação pior que a enfrentada no final de 2020, quando muitas famílias tiveram que deixar suas casas em virtude do aumento do volume do rio.

Sobradinho, que atualmente tem 60% de seu volume útil, hoje opera com defluência de 816 m³/s, enquanto sua afluência (água que entra) é de 4.700 m³/s. A partir desta quarta-feira, a defluência vai aumentar para 1.300 m³/s. A cada dois dias, a vazão vai aumentando 500 m³/s, chegando, portanto, a 4.000 m³/s no dia 24 de janeiro, conforme comunicado emitido pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) [leia mais abaixo].

Se por um lado a notícia de aumento empolga muita gente, visto que, com a cheio do Rio, o cenário da Orla fica ainda mais atrativo, ela preocupa a comunidade ribeirinha do Angary, que de acordo com Carlos Augusto, Neguinho do Angary, como é conhecido o líder comunitário, já sofre com a falta de assistência do poder público.

"Queremos saber o que vai ser feito com a nossa área ribeirinha, quais serão as providências adotadas pela prefeitura a respeito disso. São aproximadamente 50 famílias que vivem no local. Muitos que estão ali não têm para onde ir, e com a proporção tão grande de água que vai ser liberada, queremos saber para onde irão essas famílias. Está muito tensa a situação. Infelizmente o povo do Angary só pode contar com Deus, as autoridades não se importam", diz a liderença comunitária.

A preocupação dos moradores se dá em virtude do que aconteceu no final de 2020, quando a vazão do Reservatório de Sobradinho passou de 800 m³/s no dia 30 de outubro, para 2.900 m³/s no dia 05 de novembro. A Chesf chegou a anunciar que iria aumentar a vazão para 4.000 m³/s, mas voltou atrás. Ainda assim, o volume de quase 3.000 m³/s trouxe prejuízos à comunidade ribeirinha.

Na época, Neguinho do Angary chegou a acusar a Chesf de negligência, por liberar um grande volume de água em curto espaço de tempo. Famílias chegaram a retirar seus pertenes e abandonar suas residências. Com apoio da Secretaria de Desenvolvimento Social, Mulher e Diversidade (SEDES) do município, as famílias foram abrigadas em casas de parentes e também na sede da Associação de Moradores. A situação só começou a voltar ao normal no final de dezembro daquele ano, quando a Chesf começou a reduzir a vazão.

O fotógrafo e professor de Geografia Alfredo Andrade, que é natural de Recife-PE mas mora na região do Vale do São Francisco há cerca de 8 anos, chegou a registrar, na época, a situação da comunidade do Angary, que teve diversas casas alagadas.

Prefeitura de Juazeiro

Em resposta, a Prefeitura de Juazeiro disse que recebeu um comunicado da Chesf, nesta terça-feira (11), informando sobre o aumento da vazão da Barragem de Sobradinho "e esclarece que as equipes da gestão municipal já estão empenhadas para desenvolver um plano de ação e acolhimento de famílias ribeirinhas que possam vir a ficar desabrigadas, caso a água invada as residências construídas nas margens do rio São Francisco, principalmente no bairro Angari".

A prefeitura reforçou que segundo o comunicado da Chesf, a defluência (água que sai) do Lago de Sobradinho deve chegar a 4 mil m³/s (metros cúbicos por segundo) até o próximo dia 24 de janeiro, porém, esse aumento gradativo já deve começar nesta quarta-feira.

Aumento da vazão

A carta, emitada ontem (10) pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), formaliza a declaração da situação de cheia nos reservatórios da Bacia do São Francisco, "face às expressivas chuvas ocorridas a montante na UHE Três Marias com a consequente elevação da sua afluência". A medida também vale para o Reservatório de Xingó.

A própria Chesf chama atenção que a vazão de 4 mil m³/s não é vista desde 2009, por isso, ressalta a importância "da não ocupação de áreas ribeirinhas situadas na calha principal do rio, haja vista o período úmido em curso". No que diz respeito à segurança da Barragem, ressalta que "todas as usinas operadas pela Chesf encontram-se em condições seguras, operando em total normalidade, sendo monitoradas de forma contínua, com procedimento de rotina de inspeção local e avaliação dos instrumentos de segurança", finaliza o comunicado.

Da Redação RedeGN / fotos: Alfredo Andrade/@alfredo.l.andrade