Moradores da zona rural do norte da Bahia reclamam da falta de água nas cisternas e pedem ajuda para conviver com a seca

Programas de construção de cisternas e circulação de carros-pipa perdem verba do orçamento do Governo Federal. Populações do semiárido sofrem com abastecimento precário de água em mais um ano de pandemia Covid-19.

Neste último domingo (9) a reportagem da REDEGN, percorreu trechos da zona rural do Norte da Bahia e constatou o desespero das famílias que vivem nas distantes localidades da zona rural e estão sem o abastecimento de água potável. 

Na comunidade da Fazenda Canabravinha, Curaçá, Bahia, este ano as cisternas continuam vazias. O agricultor Edvaldo Silva acusa  que "desde o ano passado não recebeu mais água da Operação Carro Pipa, coordenado pela Exército Brasileiro e a situação das famílias é de extrema calamidade.".

"Não temos um pingo de água nas cisternas veja aí. Tudo seco. Sem chuvas não captamos água. Sem água aumenta os problemas de doenças. Com a pandemia os serviços, trabalho são poucos, além do desemprego na região. Sem chuva, falta água. Os carros pipas deixaram de circular e entregar água", ressalta Edvaldo.

Explica-se: a cisterna é uma forma milenar de armazenar água das chuvas em regiões que não dispõem de fornecimento de água permanente. No semi-árido do Nordeste brasileiro, a cisterna tem sido uma das principais formas de captação e armazenamento da água da chuvas, todavia, os longos períodos de estiagem que ocorre na região a água das cisternas não têm sido suficiente para atender as necessidades das famílias rurais.

A agricultora Maria do Socorro Xavier, enviou uma carta ao Programa de Rádio, ao comunicador Geraldo José, de acordo com ela "é um grito de socorro para pedir ajuda na esperança de que as autoridades tomem conhecimento e garantam o bastecimento de água na região". Os moradores solicitam a perfuração de poços, visto que a construção de cisternas tem o objetivo de captar de água de chuva e há meses não chove e a tristeza é observar as cisternas vazias." 

No Povoador de São Bento, também existe a reclamação das cisternas sem água. "Aqui na verdade só vivemos em nome da fé. Só nos resta os pedaços de esperanças. A água é essencial principalmente em tempo de pandemia, onde higiene é tudo", diz em aflição a dona de casa Elizabete Ferreira.

Elizabete cita que são pouquissimas famílias que têm água no quintal de casa e algum meio para evitar a fome e garantir a permanência delas no campo em meio às atuais crises sanitária e econômica. Constrangida Elizabe enxuga as lágrimas. "Sem água e sem emprego. Me me ajude meu Deus".

Os versos da música "Chuva de Honestidade" do poeta cantador Flávio Leandro retrata os problemas que o povo do Nordeste ainda enfrenta em pleto século XXI: um desses problemas pode ser entendido como ambiental e o outro social.

A essência é mesmo o acesso à água potável. No quesito social, nos últimos anos, Programas do Governo Federal minguaram diante da "seca de recursos". Em 2019, o valor pago pelo Governo Federal ao programa das cisternas foi o menor desde o lançamento do projeto, 13,6 milhões de reais (14,7 milhões, em valores atualizados). 

Em 2020, o Governo Federal empenhou apenas 2,6 milhões de reais.  A Operação Carro-pipa, que já teve investimento de 1 bilhão de reais em 2017, sofre com a progressiva redução de orçamento, 793  mil reais em 2018, corte  de 25% com relação ao ano anterior. Em março desta ano 2021, a Operação esteve paralisada por falta de recursos, mas em abril os caminhões voltaram a circular.

Todavia até o momento os agricultores só ouviram essa informação no Rádio. "Na prática a situação é essa. Cisternas completamente vazias e a vida cada vez mais difícil", relata Maria do Socorro.

Em nota, o Ministério da Cidadania afirmou que estão previstos 61,2 milhões de reais para o programa das cisternas em 2021 e que “foi necessário instituir medidas de segurança em decorrência da pandemia do Covid-19, o que impactou no volume de entregas desde o ano passado (2020)”. 

A Prefeitura de Curaçá informou que continua cobrando das instâncias estadual e federal um aumento na oferta dos serviços de abastecimento, lembrando que neste mês de abril já houve uma melhora e tem pelo menos 11 carros pipas trabalhando, sendo 8 do exército e 3 do município. O Secretário de Agricultura, Ticiano, informou também que, em função desse abastecimento por carros pipas muita gente abandonou as calhas que colhem água da chuva, o que causa um certo prejuizo nesse abastecimento das cisternas. Estamos buscando conscientizar as pessoas que, independente desse abasteciento por Pipa, é preciso manter as calhas limpas e em boas condições para reter a água da chuva que tem caído periodicamente na região, lembrou. 

Sobre a Operação Carro-pipa, cujo nome oficial é no Programa Emergencial de Distribuição de Água, o Ministério do Desenvolvimento Regional, responsável pelo orçamento do programa, respondeu que “o retardo na aprovação do Projeto de Lei Orçamentária Anual 2021 (PLOA) pelo Congresso Nacional desencadeou a paralisação temporária do serviço”.

O Exército, responsável pela execução do projeto, disse que a distribuição de água já está normalizada nos 634 municípios do semiárido nordestino cobertos pelo programa.

Através de nota para a REDEGN, o Escritório da Operação Carro do Comando Exército região Nordeste orientou  que "sobre a Fazenda Canabravinha, localizada em Curaçá Bahia "deve ser solicitada à Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil do município em questão, tendo em vista que é encargo do ente municipal a indicação das localidades, informando o número de pessoas a serem atendidas, os mananciais ou pontos de captação de água e as rotas a serem percorridas, tudo de acordo com a Portaria que regula a Operação".

A reportagem da REDEGN enviou solicitação de informações para a Superintendência da Defesa Civl da Bahia, mas até o momento não obteve resposta. 

 

Redação redeGN Fotos Ney Vital